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Crítica/DVD/"Blaxploitation"
Caixa é boa e variada amostra do cinema negro do início dos anos 70
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Para mostrar que o cinema negro americano
não começou com Spike
Lee, chega ao mercado de
DVDs a caixa "Blaxploitation",
com os filmes "Rififi no Harlem" (1970), "Sweet Sweetback's Baadasssss Song" (1971)
e "O Chefão do Gueto" (1973).
O termo "blaxploitation",
contração das palavras "black"
(negro) e "exploitation" (exploração), designa um filão de filmes destinados às emergentes
platéias negras urbanas, no início dos anos 70. O maior sucesso talvez tenha sido "Shaft"
(1971, com remake em 2000).
Temática, elenco, estilo, música, tudo era "black" nesse cinema, do qual os três DVDs são
uma boa e variada amostra.
"Rififi no Harlem" é um policial satírico baseado no livro
"Cotton Comes to Harlem", de
Chester Himes. Coloca em ação
os detetives negros Gravedigger Jones (Godfrey Cambridge)
e Coffin Ed Johnson (Raymond
St. Jacques). Com métodos
pouco ortodoxos, a dupla se
empenha em colocar atrás das
grades um pastor que tapeia a
comunidade negra do Harlem
prometendo um retorno a uma
África mítica de paz e liberdade.
No quiproquó que se segue,
em que se misturam Panteras
Negras e mafiosos italianos,
além de policiais de todas as etnias, vêm à tona, sob o signo do
humor, os grandes temas abordados posteriormente por Spike Lee: a opressão racial, os
conflitos no interior da própria
comunidade negra, a engabelação religiosa, a criminalidade
como falsa saída. Não por acaso, o diretor Ossie Davis seria
escalado por Lee como ator em
filmes como "Faça a Coisa Certa" e "Febre na Selva".
Pornô
"Sweet Sweetback's Baadasssss Song", dirigido, montado e estrelado por Melvin Van
Peebles, é o filme mais insólito
da caixa. Conta, em estilo mezzo-psicodélico, mezzo-militante, a história de um garanhão
de espetáculos pornô, o
"Sweetback" ("bem-dotado")
do título, que se torna um fugitivo da lei depois de enfrentar
policiais que espancam um jovem ativista negro.
Muita câmera na mão, cores
estouradas, desfocamento voluntário da imagem, montagem
descontínua, todos os cacoetes
do cinema underground da
época marcam presença.
Por fim, "O Chefão do Gueto", único filme do lote feito por
um branco (Larry Cohen, diretor de pérolas do terror B, como
"Nasce um Monstro" e "A Coisa"), é o mais eficiente -e convencional- do ponto de vista
narrativo, reproduzindo em
chave "black" o esquema de
inúmeras sagas de ascensão e
queda de um gângster.
Além do ótimo elenco, com
Fred Williamson e a bela Gloria
Hendry (a primeira Bond Girl
negra, de "Viva e Deixe Morrer"), um dos trunfos aqui é a
trilha sonora de James Brown.
Os manos e as minas não podem perder.
BLAXPLOITATION
Distribuição: Magnus Opus
Quanto: R$ 117, 50, em média
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 14 anos
("Rififi no Harlem" e "O Chefão do
Gueto") e para menores de 18 anos
("Sweet Sweetback's...")
Avaliação: bom
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