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6ª Flip
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Carlos Lyra contesta mitos da bossa em livro
Compositor diz que famoso concerto no Carnegie Hall foi "coisa constrangedora'
Em autobiografia, ele reduz importância da casa de Nara Leão e conta encontros com John Lennon entre sessões de terapia do grito primal
CAIO JOBIM
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
A bossa nova não surgiu em
1958, com a batida sincopada
do violão e o canto contido de
João Gilberto registrados no 78
rotações de "Chega de Saudade". Nem com as canções da dupla Tom Jobim/Vinicius de
Moraes gravadas por Elizeth
Cardoso em "Canção do Amor
Demais", no mesmo ano.
"O termo "bossa nova" saiu da
cabeça de um judeu [o jornalista Moyses Fuks] com um talento inequívoco para a publicidade", lembra o compositor Carlos Lyra. Ao chegar no Grupo
Hebraico do Rio, onde iria se
apresentar com novos músicos
e cantores, Lyra diz que viu um
cartaz em que se lia: "Hoje:
Sylvia Telles e um grupo bossa
nova". Estava batizada a maior
revolução da música popular
brasileira do século 20. "Isso
não é opinião, isso é um fato",
afirma Lyra, -que participa, no
próximo dia 3, de uma mesa sobre bossa nova na Flip ao lado
do crítico Lorenzo Mammì.
Essa não é a única história
que ele contesta em "Eu e a
Bossa - Histórias da Bossa Nova", autobiografia lançada pela
Casa da Palavra. O compositor
nega que a bossa tenha nascido
a partir de reuniões na casa de
Nara Leão. "Isso é coisa inventada pelo Ronaldo Bôscoli. Se
você pensar assim, perde toda a
perspectiva de um momento
cultural importante que na verdade surgiu na zona sul carioca", afirma.
O concerto no Carnegie Hall,
em Nova York, em 1962, marco
inicial da consagração internacional da bossa, não foi tão glamouroso quanto se imagina, de
acordo com Lyra. "O concerto
em si foi uma coisa constrangedora", diz. "Mas acho que as
pessoas que foram nos assistir
souberam reconhecer o que
realmente importava."
"Jornalistas e historiadores
preferem criar a história a narrar o que de fato aconteceu. Então, eu tive a preocupação de
escrever as memórias da minha
carreira e da bossa nova desde o
seu embrião", explica.
Passados os anos iniciais do
gênero, Lyra traz a narrativa
para o plano individual. Fala de
andanças pelo mundo e relembra momentos divertidos, como os encontros com o cineasta espanhol Luis Buñuel, no
México, e com John Lennon,
em Los Angeles, entre uma e
outra sessão da terapia do grito
primal, da qual ambos eram
adeptos.
Lyra estruturou a narrativa
do livro de forma que cada história remeta a uma música.
Acompanham o livro dois CDs,
que fazem um apanhado de sua
carreira, de "Quando Chegares", sua primeira composição,
a "Até o Fim", parceria recente
com Marcos Valle.
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