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6ª Flip
"Uso a intuição para achar a história"
O americano Richard Price fala sobre a aproximação entre cinema e literatura
"Lush Life", seu livro mais recente, vai ser lançado no ano que vem no Brasil; escritor vai participar de debate com Neil Gaiman
DA REPORTAGEM LOCAL
Diz a lenda que poucos roteiristas conseguem escapar da
maldição de Hollywood: reencontrar o caminho para uma
carreira literária depois de ter
vendido a alma para os estúdios. Mas há exceções, como
Richard Price.
Para o escritor e jornalista
nascido no Bronx, o clique
aconteceu com "Fogueira das
Vaidades". O romance de Tom
Wolfe mostrou o caminho para
uma prosa que incorporasse
seus temas preferidos: crimes,
drogas, conflitos inter-raciais e
intersociais, os dilemas dos
imigrantes e daqueles que não
viveram o sonho americano.
Sem contar, é claro, Nova York.
Em entrevista à Folha, enquanto se preparava para viajar
a Paraty, onde será um dos
principais convidados da 6ª
edição da Flip, Price disse que a
influência de Wolfe começou
antes que o próprio papa do
"new journalism" o elegesse
como uma das promessas da
prosa americana contemporânea. Depois do lançamento do
seu oitavo romance, "Lush Life" (vida exuberante, em tradução livre), é um elogio que hoje
encontra eco em várias publicações. O livro será lançado no
Brasil em 2009, pela Companhia das Letras.
Price já teve lançados aqui
"Clockers" (esgotado), seu livro mais conhecido, e "Freedomland: Uma História Americana", ambos pela Rocco. Para
ele, a diferença dos primeiros
livros para "Lush Life" é que
"uma parte específica da cidade de Nova York é como um
personagem do filme. Não tenho idéia por que fez mais sucesso do que os outros".
A parte da cidade é o Lower
East Side, região em transformação e pobre, "melting pot"
que embaralha a língua de diferentes tribos, de onde ele garimpou os diálogos, expressões
e gírias que são uma das grandes qualidades do seu texto. A
pesquisa não foi pequena. Para
reproduzir as expressões da
polícia, precisou de uma autorização para acompanhar o trabalho dos policiais.
Mas ele nega que suas peregrinações pelo bairro sejam a
fonte das suas histórias ou diálogos. "Eu uso mais a intuição
para achar uma história", disse.
"O impacto causado pelas mudanças do mercado imobiliário
é que determina as histórias."
Em "Lush Life", a trama envolve um gerente de restaurante que vira suspeito do assassinato de seu amigo e funcionário. Os suspeitos iniciais, dois
negros ou hispânicos, são personagens misteriosos ou inventados que ajudam a compor
o quebra-cabeça.
Mas a trama, chave dos romances policiais, é o que menos importa para ele, um admirador de Elmore Leonard, entre outros. "Não acho que a trama tenha que suplantar os personagens". O gênero, aliás, parece ser um problema.
Price tenta eliminar a distinção entre literatura popular e
alta literatura, além de desmistificar o rótulo policial. "Eu não
gosto que me chamem de autor
de policiais, mas entendo porque dizem isso. Não há livros
policiais ou não-policiais. Há livros bons ou ruins", afirma.
Scorsese
Como roteirista, seu trabalho
certamente é mais conhecido.
Inclui "Shaft" (2000), "O Beijo
da Morte" (95) e "Contos de
Nova York" (89), este último no
episódio de seu diretor preferido: Martin Scorsese.
"Scorsese foi o melhor diretor com quem já trabalhei, ele
sabe exatamente o que quer. Se
o diretor não sabe exatamente
o que quer, é difícil fazer o roteiro". A parceria lhe rendeu
uma indicação ao Oscar, com
"A Cor do Dinheiro" (86).
Price teve as melhores referências da Flip, mas ainda não
sabe o que vai discutir. Ele não
conhece o quadrinista britânico Neil Gaiman, com quem vai
debater em Paraty, no sábado
(5/7). Ou melhor, nem conhece
a obra de Gaiman.
(MS)
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