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Livro faz painel sobre músico pioneiro
Precursor do choro no século 19, Joaquim Callado é tema de novo trabalho do historiador André Diniz
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA REPORTAGEM LOCAL
O historiador André Diniz,
37, reconhece: seria "quase impossível" fazer uma biografia
de Joaquim Callado (1848-1880), tão poucas são as referências disponíveis a seu respeito. O que ele buscou em
"Joaquim Callado - O Pai do
Choro" foi montar um painel
sobre esse músico que influenciou Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth e muitos outros, mas não alcançou o tempo
das gravações.
"O livro tem muito do sonho
do pesquisador, de ficar três
meses num arquivo para conseguir uma linha, e do desejo de
ser um escritor com sensibilidade para construir um personagem, dar musculatura a ele
com o contexto social e cultural
da época", explica o autor.
Esse tipo de costura ele já tinha feito em "O Rio Musical de
Anacleto de Medeiros", lançado no ano passado. E Diniz
também é autor de "Almanaque do Choro" (2003), "Almanaque do Samba" (2006) e "Almanaque do Carnaval" (2008).
Mas a pesquisa sobre Callado
antecede a criação do filão, pois
foi feita para uma tese de mestrado concluída em 2002.
"O texto do livro é completamente diferente. Busquei uma
linguagem mais clara, um modo mais agradável de essa história chegar ao leitor", avisa.
Flautista excepcional, autor
de pelo menos 66 melodias (catalogadas pelo violonista Mauricio Carrilho), Callado conseguiu conciliar sólida formação
musical e grande poder de improvisação, ingredientes dos
que, a partir dele, começariam a
ser chamado de chorões.
Em sua época, o choro ainda
não existia como gênero -o
que só veio a se firmar no início
do século 20-, mas como uma
forma à brasileira de se tocar
polcas, valsas e outras músicas
européias. Por criar o pioneiro
conjunto Choro Carioca, Callado se tornou conhecido como
"o pai do choro".
"O choro não tem só um pai,
mas, como diz o [historiador
José Ramos] Tinhorão, Callado
é o primeiro localizável no tempo", explica Diniz.
Ele faz um panorama do que
já foi escrito sobre o flautista,
procurando relativizar certas
referências. A folclorista Mariza Lira, por exemplo, escreveu
nos anos 40 um ensaio importante marcado pelas idéias de
Gilberto Freyre ("Casa-grande
& Senzala"), no qual o mestiço
Callado aparece como exemplo
das qualidades derivadas da
mistura de etnias no Brasil.
"Procuro atualizar o debate,
mostrando que a musicalidade
não está ligada a uma questão
de raça", diz o autor.
JOAQUIM CALLADO - O PAI DO
CHORO
Autor: André Diniz
Editora: Jorge Zahar
Quanto: R$ 38 (148 págs.)
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