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São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2003

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CRÍTICA

Os segundos mais caros da TV americana

BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA

Começa agora um período de aflição para os fãs dos seriados americanos. É que lá, como se costuma dizer querendo significar os Estados Unidos, começa a temporada 2003/2004, enquanto que aqui ainda se arrasta o final da 2002/2003, com as reprises e a confusão de praxe.
Até novembro, que é quando os canais da TV por assinatura costumam estrear a nova temporada aqui, já aconteceu muita coisa nas séries -inclusive o cancelamento de algumas.
O início da temporada, nos EUA, é um grande acontecimento televisivo, ou melhor, midiático: outdoors anunciando novas séries estão nas ruas, as revistas de entretenimento e guias de TV trazem o assunto na capa, os jornais diários fazem críticas.
Coincide com a entrada do outono no hemisfério Norte; com a chegada de temperaturas baixas e dias mais curtos, sugere-se um certo recolhimento: de uma hora para outra, ficar em casa vendo TV parece convidativo.
É como se várias novelas estreassem no mesmo período, com a diferença que a continuidade de cada série depende dos números de audiência desse início. Pragmáticas, as emissoras às vezes nem esperam o final da temporada para cancelar uma série que não deu certo e suspendem sua exibição depois de alguns episódios. Muitas vezes, seriados já cancelados nos EUA são anunciados com barulho e exibidos aqui sem a menor cerimônia.
As séries, lá, mobilizam quantidades astronômicas de dinheiro de publicidade. Os números são impressionantes: 30 segundos durante um intervalo de "Friends", por exemplo, custa em média nada menos que US$ 473.500 (R$ 1,387 milhão, aproximadamente), segundo o site da revista "Advertising Age". É o meio minuto mais caro da TV americana, seguido por "Will & Grace" (US$ 414.500, ou R$ 1,214 milhão) e "E.R." (US$ 404.814, ou R$ 1,186 milhão), em terceiro. O quarto colocado é o "reality show" "Survivor", cujo intervalo comercial vale US$ 390.367 (R$ 1,144 milhão).
É curioso que, entre os campeões de publicidade -e de audiência-, estejam séries tão longevas quanto "Friends" e "E.R", ambas iniciando suas décimas temporadas. Sugere que o público de TV prefere o conhecido, o já aprovado, sem surpresas. Mesmo, como no caso de "E.R.", que a série já esteja quase descaracterizada de tantos personagens que já a deixaram.
A presença de "Will & Grace" entre os mais caros também indica a notável capacidade da TV de normatizar comportamentos, ou melhor, de promover a comunhão dos diferentes por meio do consumo. A comédia tem como protagonista um jovem advogado, Will, e sua melhor amiga, a decoradora Grace. Ele é gay, ela uma trintona solteira, seus melhores amigos são o que costumava se chamar de desajustados, mas todos consomem loucamente -e, para os anunciantes, é só isso que importa.

E-mail biabramo.tv@uol.com.br


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