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CRÍTICA
Os segundos mais caros da TV americana
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Começa agora um período
de aflição para os fãs dos seriados americanos. É que lá, como se costuma dizer querendo
significar os Estados Unidos, começa a temporada 2003/2004,
enquanto que aqui ainda se arrasta o final da 2002/2003, com as
reprises e a confusão de praxe.
Até novembro, que é quando
os canais da TV por assinatura
costumam estrear a nova temporada aqui, já aconteceu muita
coisa nas séries -inclusive o
cancelamento de algumas.
O início da temporada, nos
EUA, é um grande acontecimento televisivo, ou melhor, midiático: outdoors anunciando novas
séries estão nas ruas, as revistas
de entretenimento e guias de TV
trazem o assunto na capa, os jornais diários fazem críticas.
Coincide com a entrada do outono no hemisfério Norte; com a
chegada de temperaturas baixas
e dias mais curtos, sugere-se um
certo recolhimento: de uma hora
para outra, ficar em casa vendo
TV parece convidativo.
É como se várias novelas estreassem no mesmo período,
com a diferença que a continuidade de cada série depende dos
números de audiência desse início. Pragmáticas, as emissoras às
vezes nem esperam o final da
temporada para cancelar uma
série que não deu certo e suspendem sua exibição depois de alguns episódios. Muitas vezes, seriados já cancelados nos EUA são
anunciados com barulho e exibidos aqui sem a menor cerimônia.
As séries, lá, mobilizam quantidades astronômicas de dinheiro
de publicidade. Os números são
impressionantes: 30 segundos
durante um intervalo de
"Friends", por exemplo, custa
em média nada menos que US$
473.500 (R$ 1,387 milhão, aproximadamente), segundo o site da
revista "Advertising Age". É o
meio minuto mais caro da TV
americana, seguido por "Will &
Grace" (US$ 414.500, ou R$ 1,214
milhão) e "E.R." (US$ 404.814,
ou R$ 1,186 milhão), em terceiro.
O quarto colocado é o "reality
show" "Survivor", cujo intervalo
comercial vale US$ 390.367 (R$
1,144 milhão).
É curioso que, entre os campeões de publicidade -e de audiência-, estejam séries tão longevas quanto "Friends" e "E.R",
ambas iniciando suas décimas
temporadas. Sugere que o público de TV prefere o conhecido, o
já aprovado, sem surpresas. Mesmo, como no caso de "E.R.", que
a série já esteja quase descaracterizada de tantos personagens que
já a deixaram.
A presença de "Will & Grace"
entre os mais caros também indica a notável capacidade da TV de
normatizar comportamentos, ou
melhor, de promover a comunhão dos diferentes por meio do
consumo. A comédia tem como
protagonista um jovem advogado, Will, e sua melhor amiga, a
decoradora Grace. Ele é gay, ela
uma trintona solteira, seus melhores amigos são o que costumava se chamar de desajustados,
mas todos consomem loucamente -e, para os anunciantes,
é só isso que importa.
E-mail biabramo.tv@uol.com.br
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