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Festa da fertilidade reúne cerca de 700 no Tennessee, EUA
"Não há regras além de não roubar", conta o fotógrafo brasileiro que fez ensaio no local; exposição abre hoje
Artista diz que passou por transformação profunda após a experiência que teve
no festival pagão
Fotos gui Mohallem/Divulgação
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Frequentador do festival de primavera Beltane, no Tennessee, confere
as hortaliças
DE SÃO PAULO
O contato inicial era apenas um e-mail. "Escreva para
lá e diga quando você vai
chegar", disse um amigo de
gUi Mohallem. O mineiro escreveu e, quando chegou ao
aeroporto de Nashville, já havia alguém esperando. Uma
hora e meia de carro e chegou ao Santuário, nome pela
qual o local é conhecido.
A exemplo da maioria dos
700 visitantes que foram à fazenda para o Beltane, evento
celta que festeja a primavera
e a fertilidade, o fotógrafo mineiro acampou com barraca.
"Não existem regras. É só
não roubar. E não cozinhar
carne, porque são duas cozinhas, a vegetariana e a vegan
(sem derivados animais).
Não podíamos nem misturar
as panelas; há um respeito
muito grande", conta gUi.
Mas não há líderes, não há
horários, não há obrigações.
Tudo é feito na base do voluntariado. "Tem o círculo da
manhã e tem o círculo da noite. Então, quem quiser vai lá
ouvir os anúncios, por exemplo, "precisamos de voluntários pra cortar lenha" ou "vamos ter um workshop de cultura indígena local" ou "caminhada pelas hortas orgânicas", ocupações sempre criadas a partir de iniciativas dos
visitantes", lembra.
"Tem um pessoal que mora lá, podemos perguntar as
coisas, que eles são os responsáveis, mas eles escolheram, é tudo na base do voluntariado e da contribuição. Os
almoços são feitos por voluntários. Um dia, eu fiz um tabule pra 400 pessoas. Eu era
o chef, mas tinha muitos ajudantes, uma galera picando
a salsinha, outra responsável
por comprar o limão na cidade próxima etc."
Pouca coisa é paga. Por
exemplo, pede-se uma colaboração de entre US$ 8 e US$
15 pelas refeições a cada dia.
O transporte para o aeroporto custa US$ 30. O resto é grátis. Há uma butique de roupas usadas num celeiro, mas
é uma butique grátis, basta ir
lá e escolher o que quiser.
E o sexo? Bem, não há regras, reafirma Mohallem. "É
uma celebração da fertilidade. O ambiente é tão livre que
qualquer opressão que você
sinta vem de você."
O Santuário do Tennessee
é apenas um dos vários mantidos pelo grupo Radical Faeries (algo como fadas radicais; www.radfae.org).
Criado nos anos 70, o grupo busca redefinir a identidade gay por meio da espiritualidade. Para tal, o grupo
mantém dez santuários como o de Nashville espalhados pelos EUA, além de outros no Canadá, Austrália,
Reino Unido e França.
LAR
Para Mohallem, a transformação está sendo profunda.
"Minha fotografia está mudando por causa disso, a forma como me relaciono com o
outro. Assumi meus desejos,
saí do armário como fotógrafo", resume ele. É por isso
que a exposição se chama
"Welcome Home" (bem-vindo ao lar): "Não me isolo
mais num mundo, sinto que
pertenço a algum lugar".
"Welcome Home", que
com duas outras exposições
ganha o nome geral de Projeto Incubadora (no site
www.projetoincubadora.com) contou ainda com intervenções do artista plástico
Lucas Simões. Simões recortou fotos, brincou com texturas de papéis fotográficos,
fez quase objetos tridimensionais. O resultado está pregado numa das paredes da
Galeria Olido.
(IVAN FINOTTI)
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