São Paulo, quinta-feira, 28 de outubro de 2010

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Festa da fertilidade reúne cerca de 700 no Tennessee, EUA

"Não há regras além de não roubar", conta o fotógrafo brasileiro que fez ensaio no local; exposição abre hoje

Artista diz que passou por transformação profunda após a experiência que teve no festival pagão

Fotos gui Mohallem/Divulgação
Frequentador do festival de primavera Beltane, no Tennessee, confere as hortaliças

DE SÃO PAULO

O contato inicial era apenas um e-mail. "Escreva para lá e diga quando você vai chegar", disse um amigo de gUi Mohallem. O mineiro escreveu e, quando chegou ao aeroporto de Nashville, já havia alguém esperando. Uma hora e meia de carro e chegou ao Santuário, nome pela qual o local é conhecido.
A exemplo da maioria dos 700 visitantes que foram à fazenda para o Beltane, evento celta que festeja a primavera e a fertilidade, o fotógrafo mineiro acampou com barraca.
"Não existem regras. É só não roubar. E não cozinhar carne, porque são duas cozinhas, a vegetariana e a vegan (sem derivados animais). Não podíamos nem misturar as panelas; há um respeito muito grande", conta gUi.
Mas não há líderes, não há horários, não há obrigações. Tudo é feito na base do voluntariado. "Tem o círculo da manhã e tem o círculo da noite. Então, quem quiser vai lá ouvir os anúncios, por exemplo, "precisamos de voluntários pra cortar lenha" ou "vamos ter um workshop de cultura indígena local" ou "caminhada pelas hortas orgânicas", ocupações sempre criadas a partir de iniciativas dos visitantes", lembra.
"Tem um pessoal que mora lá, podemos perguntar as coisas, que eles são os responsáveis, mas eles escolheram, é tudo na base do voluntariado e da contribuição. Os almoços são feitos por voluntários. Um dia, eu fiz um tabule pra 400 pessoas. Eu era o chef, mas tinha muitos ajudantes, uma galera picando a salsinha, outra responsável por comprar o limão na cidade próxima etc."
Pouca coisa é paga. Por exemplo, pede-se uma colaboração de entre US$ 8 e US$ 15 pelas refeições a cada dia. O transporte para o aeroporto custa US$ 30. O resto é grátis. Há uma butique de roupas usadas num celeiro, mas é uma butique grátis, basta ir lá e escolher o que quiser.
E o sexo? Bem, não há regras, reafirma Mohallem. "É uma celebração da fertilidade. O ambiente é tão livre que qualquer opressão que você sinta vem de você."
O Santuário do Tennessee é apenas um dos vários mantidos pelo grupo Radical Faeries (algo como fadas radicais; www.radfae.org).
Criado nos anos 70, o grupo busca redefinir a identidade gay por meio da espiritualidade. Para tal, o grupo mantém dez santuários como o de Nashville espalhados pelos EUA, além de outros no Canadá, Austrália, Reino Unido e França.

LAR
Para Mohallem, a transformação está sendo profunda. "Minha fotografia está mudando por causa disso, a forma como me relaciono com o outro. Assumi meus desejos, saí do armário como fotógrafo", resume ele. É por isso que a exposição se chama "Welcome Home" (bem-vindo ao lar): "Não me isolo mais num mundo, sinto que pertenço a algum lugar".
"Welcome Home", que com duas outras exposições ganha o nome geral de Projeto Incubadora (no site www.projetoincubadora.com) contou ainda com intervenções do artista plástico Lucas Simões. Simões recortou fotos, brincou com texturas de papéis fotográficos, fez quase objetos tridimensionais. O resultado está pregado numa das paredes da Galeria Olido. (IVAN FINOTTI)


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