São Paulo, quinta-feira, 28 de outubro de 2010

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34ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO

Novas faces de Antonioni chegam a SP

Filmes desconstroem imagem de cineasta do silêncio e revelam bastidores da primeira exibição de "China"

"Sua vida era o oposto do tédio e ele não era nada introvertido", diz Di Carlo, amigo de Antonioni, que vem a SP

ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO

Michelangelo Antonioni (1912-2007), que filmou o silêncio e narrou o tédio, passou a vida a esquivar-se de ambos. O cineasta nutria as amizades, praticava esportes, frequentava espetáculos e, como afirma em "Antonioni sobre Antonioni", adorava conversar. "Não sou incomunicável", disse, em tom jocoso, num programa de TV.
O diretor passou a carreira a explicar o conceito de "incomunicabilidade", tornado marca de seus filmes. "Muita gente construiu uma imagem equivocada dele. Sua vida era o oposto do tédio e ele não era nada introvertido", diz Carlo di Carlo, jurado da 34ª Mostra e diretor de "Antonioni sobre Antonioni", que está na programação.
O documentário não chega sozinho. A cidade receberá ainda "O Olhar Imposto", relato da primeira exibição do documentário "China" em Pequim, feito por Di Carlo, e o próprio "China".

BRIGUENTOS
Di Carlo e Antonioni se conheceram no início dos anos 60, em Bologna. Di Carlo sabia que o diretor estaria na cidade e decidiu ser insistente.
"Todos os dias, às 7h30 da manhã, eu ligava para ele, tentando marcar um encontro", conta. Di Carlo, naquela altura, estava fazendo seu primeiro curta-metragem. Os dois se entenderam como só se entendem aqueles que falam a mesma língua.
Voltaram a se encontrar em Roma e, em 1964, Di Carlo lançava seu primeiro livro sobre o cineasta, que já tinha feito filmes como "A Noite" e "Deserto Vermelho".
Quando estava se preparando para montar "Blow-Up -Depois daquele Beijo", chamou Di Carlo para ajudá-lo a preparar a versão italiana do filme. "Essa relação determinou minha vida", diz. Di Carlo escreveu 13 livros sobre o diretor e organizou uma série de retrospectivas.
Mas Di Carlo, que é diretor e crítico, confessa que ambos brigaram muito também. "Eram dois temperamentos terríveis convivendo", diz. "Discutíamos sobre tudo: cinema, vida, amigos." Segundo ele, Antonioni era um homem de aparência tranquila, mas muito determinado.
A determinação o fez filmar sem parar -a despeito das dificuldades de produção -e bater-se contra os obstáculos que se punham à frente de uma obra.
Foi esse o caso do desastre diplomático gerado por "China". "Ele ficou fascinado pela China, mas passou por coisas terríveis", diz Di Carlo.


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