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CRÍTICA DOCUMENTÁRIO
Filme de Di Carlo tem momentos indispensáveis aos cinéfilos
CRÍTICO DA FOLHA
"Antonioni Sobre Antonioni", de Carlo di Carlo, é
exatamente o que o título diz:
uma compilação de entrevistas do grande cineasta italiano, desde os anos 1960 até o
momento em que recebe um
Oscar honorário, em 1995
(quando não pode falar, devido ao derrame que sofrera,
falam por ele), das mãos de
Jack Nicholson, seu ator em
"O Passageiro - Profissão Repórter" (1975).
Louve-se, para começar, a
modéstia de Di Carlo, que
evita de todo o brilho pessoal. Emenda entrevistas significativas do diretor italiano, concedidas a bons entrevistadores (salvo erro, estamos quase sempre nos domínios da velha RAI), e mesmo
que produzidas em surpreendentes shows de auditório
capazes de associar o espírito
de Silvio Santos à genialidade do Michelangelo do século 20.
Nessas entrevistas, arrancam-se algumas confissões
de caráter pessoal (mas que
não têm nada a ver com fofoca), como o caráter competitivo do mestre italiano.
Ou percebe-se alguma mágoa, quando fala da dificuldade de produzir na Itália filmes que não sejam comédias
inconsequentes. Lista uma
série de comediantes que fazem esses filmes, e dessa lista
não exclui Monica Vitti, sua
ex-musa.
DISTÂNCIA
Do ponto de vista estritamente cinematográfico, Antonioni reage com aquele ar
meio distante quando se fala
dele como "cineasta da incomunicabilidade".
Responde que, quando
menos, conseguiu comunicar a incomunicabilidade.
Esse era seu marketing, sem
dúvida: o que constituía sua
identidade pública.
O melhor momento, o
mais rico, talvez seja quando
comenta o uso da cor, em
particular as diferenças de
tratamento entre "Deserto
Vermelho" (1964) e "Blow
Up" (1966).
No primeiro, a cor foi substancialmente alterada, a fim
de criar um mundo visto pelos olhos de uma neurótica
de último grau.
Mas em "Blow Up", observa Antonioni, o trabalho de
supressão e acréscimo de cores foi bem mais sutil e profundo: tratava-se de recriar
Londres, talvez, tal como a
cidade se via e era vista nos
anos 1960 (de Beatles, Mary
Quant etc.). Trata-se de um
trabalho de invenção sobre o
real, sobre o real instável,
evanescente, talvez inexistente, que Antonioni sempre
pisou.
E que se conclui por essa
triste e memorável cerimônia
de Oscar em que esse magnífico artista das imagens está
reduzido ao silêncio pela
doença.
Que importa? Cada momento deste filme parecerá,
com razão, indispensável
aos fãs de cinema.
(INÁCIO ARAUJO)
ANTONIONI SOBRE
ANTONIONI
DIREÇÃO Carlo di Carlo
QUANDO hoje, às 21h40, no Cine
Livraria Cultura; amanhã, às
16h40, e dia 4/11, às 21h30, no
Unibanco Arteplex
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO ótimo
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