São Paulo, quinta-feira, 28 de outubro de 2010

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CRÍTICA DOCUMENTÁRIO

Filme de Di Carlo tem momentos indispensáveis aos cinéfilos

CRÍTICO DA FOLHA

"Antonioni Sobre Antonioni", de Carlo di Carlo, é exatamente o que o título diz: uma compilação de entrevistas do grande cineasta italiano, desde os anos 1960 até o momento em que recebe um Oscar honorário, em 1995 (quando não pode falar, devido ao derrame que sofrera, falam por ele), das mãos de Jack Nicholson, seu ator em "O Passageiro - Profissão Repórter" (1975).
Louve-se, para começar, a modéstia de Di Carlo, que evita de todo o brilho pessoal. Emenda entrevistas significativas do diretor italiano, concedidas a bons entrevistadores (salvo erro, estamos quase sempre nos domínios da velha RAI), e mesmo que produzidas em surpreendentes shows de auditório capazes de associar o espírito de Silvio Santos à genialidade do Michelangelo do século 20.
Nessas entrevistas, arrancam-se algumas confissões de caráter pessoal (mas que não têm nada a ver com fofoca), como o caráter competitivo do mestre italiano.
Ou percebe-se alguma mágoa, quando fala da dificuldade de produzir na Itália filmes que não sejam comédias inconsequentes. Lista uma série de comediantes que fazem esses filmes, e dessa lista não exclui Monica Vitti, sua ex-musa.

DISTÂNCIA
Do ponto de vista estritamente cinematográfico, Antonioni reage com aquele ar meio distante quando se fala dele como "cineasta da incomunicabilidade".
Responde que, quando menos, conseguiu comunicar a incomunicabilidade. Esse era seu marketing, sem dúvida: o que constituía sua identidade pública.
O melhor momento, o mais rico, talvez seja quando comenta o uso da cor, em particular as diferenças de tratamento entre "Deserto Vermelho" (1964) e "Blow Up" (1966).
No primeiro, a cor foi substancialmente alterada, a fim de criar um mundo visto pelos olhos de uma neurótica de último grau.
Mas em "Blow Up", observa Antonioni, o trabalho de supressão e acréscimo de cores foi bem mais sutil e profundo: tratava-se de recriar Londres, talvez, tal como a cidade se via e era vista nos anos 1960 (de Beatles, Mary Quant etc.). Trata-se de um trabalho de invenção sobre o real, sobre o real instável, evanescente, talvez inexistente, que Antonioni sempre pisou.
E que se conclui por essa triste e memorável cerimônia de Oscar em que esse magnífico artista das imagens está reduzido ao silêncio pela doença.
Que importa? Cada momento deste filme parecerá, com razão, indispensável aos fãs de cinema.
(INÁCIO ARAUJO)

ANTONIONI SOBRE ANTONIONI

DIREÇÃO Carlo di Carlo
QUANDO hoje, às 21h40, no Cine Livraria Cultura; amanhã, às 16h40, e dia 4/11, às 21h30, no Unibanco Arteplex
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO ótimo


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