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CRÍTICA DOCUMENTÁRIO
"China", de 1972, deslumbra com observação antropológica
RAUL JUSTE LORES
EDITOR DE MERCADO
Em 1972, Michelangelo
Antonioni foi o primeiro cineasta ocidental a obter permissão para filmar na China
desde a chegada dos comunistas ao poder em 1949.
Era um dos mais pobres e
fechados países do mundo.
Os registros fazem de "China" um monumento de valor
histórico e fílmico único.
Ele passou oito semanas
no país, visitando Pequim,
Xangai, Suzhou, Nanjing e
vilarejos rurais na Província
de Henan. O ditador Mao Tse-tung ainda estava vivo e o
país ensaiava uma abertura.
O primeiro-ministro Zhou
Enlai, responsável pelo convite ao italiano, esperava
uma propaganda de luxo.
Fiel aos dogmas da esquerda, que idealizava a ditadura
maoísta, Antonioni elogia o
coletivismo, o desprendimento material e a igualdade
da sociedade chinesa -todos
igualmente miseráveis.
"China" não revela os horrores da Revolução Cultural
(1966-1976), quando fecham
todas as universidades e milhares de intelectuais são
mortos. Mas, sorrateiramente, o cineasta revela o controle que sua equipe sofria.
A câmera respeitosa e assombrada mostra Pequim
sem carros e com burrinhos
circulando nas avenidas.
A cesariana acontece sem
anestesia -ou melhor, com
enormes agulhas. A acupuntura permite que a gestante
passe incólume pela cirurgia.
Nesses momentos de observação antropológica, o
longa deslumbra.
Mas as autoridades comunistas não o viram assim. Foi
atacado de antirrevolucionário, proibido e jamais teve estreia comercial no país.
Mas, quase 40 anos depois, está em qualquer loja
de DVDs piratas de Pequim.
Para quem teve suas décadas
de Coreia do Norte, revela o
quanto a China progrediu.
CHINA
DIREÇÃO Michelangelo Antonioni
QUANDO hoje, às 17h50, no Cine
Livraria Cultura; no dia 2/11, às
18h, no Centro Cultural São Paulo;
e no dia 4/11, às 18h20, no MIS
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO ótimo
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