São Paulo, quinta-feira, 28 de outubro de 2010

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34ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO

CRÍTICA DRAMA

Em bela parábola, japonês Kore-eda retrata vidas vazias

BRUNO YUTAKA SAITO
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

Não apenas como potência cinematográfica, mas também econômica, o Japão já viveu dias mais gloriosos. Isso ajuda a explicar por que os (poucos) títulos do país que chegam ao Brasil são tomados por um melancólico clima de ressaca.
Os filmes de Hirokazu Kore-eda se enquadram nessa categoria.
A cada filme, o diretor retoma questões básicas, típicas da infância, mas nunca respondidas e sempre incômodas. "O que é importante na vida?" e "o que levamos daqui?" são algumas de suas perguntas recorrentes.
Em "Air Doll" (Boneca de ar), inspirado em um mangá, Kore-eda segue com dúvidas semelhantes, mas numa via humanista, com um olhar afetuoso sobre os sofridos personagens, nunca caindo no cinema de auto-ajuda e suas respostas fáceis.
Nozomi é uma boneca inflável, espécie de Pinóquio sexual. Hideo, o dono, é um solitário garçom de meia-idade e a trata como uma pessoa de verdade. Janta e conversa com ela, faz passeios.
Mas, em determinado momento, Nozomi ganha vida. E, quando o dono não está por perto, ela sai pelas ruas de Tóquio para tentar entender o mundo e, principalmente, saber o que significa ter um coração, ser humano.
Kore-eda buscou explicitar seus temas na própria estrutura do filme. Em vários momentos, o apuro estético e a extensão de determinadas sequências nos levam a crer que o cineasta perdeu a mão, optando por um cinema maneirista e apenas "belo".
Kore-eda, no entanto, está falando de vidas vazias, seja o interior cheio de ar de uma boneca inflável, seja de pessoas infelizes que buscam a silhueta perfeita ou um sentido mínimo para a existência. Nozumi, substituta para carências afetivas, vai trabalhar numa videolocadora.
Por ali, ela irá aprender o que é a vida por meio do cinema, a arte da representação do real. "Air Doll" nos sugere que, após tanto consumismo desenfreado, resta apenas o vazio. Não há substitutos para a falta de uma essência.

AIR DOLL

DIREÇÃO Hirokazu Kore-eda
QUANDO hoje, às 22h, no Unibanco Arteplex
CLASSIFICAÇÃO 18 anos
AVALIAÇÃO ótimo


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