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CRÍTICA
"Dawson's Creek" prega o conformismo pop
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Amanhã o canal de TV paga
Sony exibe o último capítulo
da sexta e derradeira temporada
de "Dawson's Creek". Dawson, o
jovem aspirante a cineasta, sua
amicíssima e quase namorada
Joey e seus outros amiguinhos de
Capeside devem passar para a história da cultura pop como os adolescentes mais chatos jamais criados para qualquer tipo de ficção.
Curioso: a mesma indústria do
entretenimento que moldou a
idéia da juventude como o território da rebeldia via música e cinema nos anos 50, está se encarregando de sepultá-la. Nos seriados
dramáticos norte-americanos da
virada dos anos 90 que contemplam a juventude, o tom é de um
conservadorismo de arrepiar.
À primeira vista, todos os temas
que compõem o repertório básico
das histórias de jovens tal como
foi estabelecido por Hollywood
-as descobertas da identidade e
da sexualidade, os dilemas morais
da entrada no mundo adulto, a
educação sentimental- estão lá,
mas qualquer idéia de confronto
com as instituições foi eliminada.
Há, por vezes, fricção, arrufos,
aborrecimentos, que em geral são
causados por adulto incompetente -um pai ausente, uma mãe
perturbada mentalmente, um
professor mau-caráter. Mas, basicamente, cabe aos adolescentes e
jovens se adaptar e se conformar
com o mundo tal como ele se
apresenta.
"Dawson's Creek" talvez seja o
produto mais bem acabado de
uma lista que ainda conta com o
extinto "Felicity", e os mais recentes "Gilmore Girls" e "Everwood".
Criada por Kevin Williamson, roteirista de "Pânico", "Eu Sei o que
Vocês Fizeram no Verão Passado", o seriado é uma lição de como fazer histórias e personagens
moralistas soarem bacanas. Claro, esta sempre foi uma especialidade da indústria do entretenimento norte-americana, mas a
indústria vem sendo cada vez
mais eficiente em maximizar a
carga de proselitismo conservador, ao mesmo tempo em que sofistica sua maquiagem "cool".
Em outras palavras, quanto
mais próximo das referências da
cultura jovem/pop, maior a eficácia das inúmeras lições de moral
que vêm junto. Em "Dawson's
Creek", até mesmo o fato de um
dos personagens do núcleo principal ser gay entra nesse rolo compressor do conformismo. A cultura norte-americana é tão poderosa no sentido de amansar comportamentos transgressores que o
seriado oferecia em Jack um modelo perfeito para ensinar os jovens gays a conciliar homossexualidade com conformidade.
Diante de um mundo codificado, ao qual não há alternativa de
nenhuma espécie, só restava aos
lindos, bem vestidos e aborrecidos adolescentes de Capeside falar pelos cotovelos, escarafunchando suas vidas com a mesma
energia neurótica que os personagens de Woody Allen -só que
sem a menor sombra de humor.
biabramo.tv@uol.com.br
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