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"Há interessados em investir, mas não podemos recebê-los"
Abel Pietro, ministro da Cultura de Cuba, diz que fim de bloqueios aos investimentos internacionais seria solução para situação "deplorável" de instituições
DA ENVIADA A HAVANA
A cidade de Havana tem cerca de 30 salas de teatro, mas, segundo o ator e diretor teatral
José Alonso, oito estão fechadas por não terem condições de
receber público nem espetáculos. O ministro da Cultura de
Cuba, Abel Pietro, que foi assistir ao segundo dia de "Liz" na
sala Adolfo Llauradó -sem água nos banheiros, com problemas de iluminação, além de
paredes e colunas deterioradas-, diz reconhecer que a situação das instituições é "deplorável". Depois do espetáculo, ele falou à Folha.
FOLHA - Os principais teatros de
Havana estão em péssimas condições, como a sala Adolfo Llauradó,
que não tem água nos banheiros,
tem problemas de iluminação.
ABEL PIETRO - Sim, conheço esses problemas. Infelizmente, a
situação é lamentável. Ocorre
que a economia está muito difícil. Os anos 90 foram desastrosos para Cuba.
FOLHA - Não há como fazer reformas nos espaços?
PIETRO - Veja, o Teatro Nacional, por exemplo, requer uma
reforma urgente, que custará
milhões. Milhões que nós não
temos. No teatro Brecht, já estamos fazendo uma grande reforma, no García Lorca e em algumas províncias também. Mas não saímos da crise. Estamos melhor do que nos anos
90, mas há que se saber que Cuba é grande importadora de alimentos. A crise mundial nos
afeta muito.
FOLHA - O país vive
um bom momento de criação?
PIETRO - Sim, mas temos muitas necessidades. No teatro, por
exemplo, há muito público, há
um grande momento de criatividade, um grande momento
para a cultura cubana, mas as
instituições não têm condições
de abrigar espetáculos. As instituições estão lamentavelmente
em situação de contração. Estão deploráveis. Os recursos
são escassos, difíceis. Um dos
problemas acaba sendo o de ter
muitos talentos e poucas instituições em condições.
FOLHA - O senhor vê soluções?
PIETRO - A solução passa pela
situação econômica, passa por
não sofrer esse bloqueio aos investimentos internacionais.
Temos muitas pessoas interessadas em investir em Cuba,
mas não podemos recebê-las.
Os fretes para cá, por exemplo,
são muito mais caros do que no
mundo todo. Por sorte, ainda
posso dizer que o teatro está
subvencionado pelo governo.
No caso da música, por exemplo, é mais difícil. De qualquer
forma, seria um delírio não reconhecer o mercado cultural
que nós temos.
FOLHA - O candidato à presidência
dos EUA Barack Obama divulgou comunicado em que disse só afrouxar
o embargo se Cuba passar por "mudanças significativas".
PIETRO - Este é um momento
em que não se pode prestar
muita atenção às declarações. A
política dos Estados Unidos está sofrendo a pressão dos grupos cubanos de Miami que ajudaram a fraudar as eleições e deram a presidência a Bush
[em 2000]. Esse show da máquina eleitoral norte-americana é deplorável. E ainda acredito muito no que o Fidel disse: "Temos que esperar". Se esperarmos coisas ruins, sempre o
que vier será melhor.
(AF)
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