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BIA ABRAMO
"Pantanal" é o triunfo da simplicidade
O que a novela ainda tem de atraente para espectadores menos adestrados pela Globo?
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MUITAS imagens aéreas do
Pantanal. Rios, corixos,
terras alagadas. Vastidão,
céu e horizonte. Muito close de bicho -jacaré, tuiuiú, garça. Uns pares
de bons atores e uma história, bem,
simples. "Pantanal" marcou época
como uma novela que conseguiu
amedrontar a Globo, mas também
como uma tentativa bem-sucedida
de empreender uma narrativa fora
dos eixos.
Mais lenta, reduzida a elementos
dramáticos descomplicados, longe
dos cenários habituais -nem o Rio
da zona sul ou do subúrbio estilizado, nem o Nordeste genérico e folclórico, nem mesmo a São Paulo da
imigração pitoresca-, "Pantanal" se
impôs, aos poucos, como uma alternativa de qualidade às novelas da
Globo.
Quase 20 anos depois, a história se
repete. Depois de mais uma novela
das oito da Globo que pretende fazer
"a" leitura do Brasil contemporâneo
e das estripulias juvenis da Record,
há "Pantanal", com suas paisagens
reconfortantes.
Quer dizer, se repete com um pouco mais de barulho, é verdade, por
conta de uma pendenga judicial entre o SBT, que exibe a novela desde o
início do mês de junho, e a Globo,
que detém os direitos sobre o texto e
as imagens da obra.
O fato é que "Pantanal" deu uma
injeção de ânimo na audiência da
emissora -o que significa que há
muita gente que quer ver ou rever a
novela. Os motivos que levam à nostalgia são mais decifráveis -não à
toa, a Rede Globo mantém há anos
um horário exclusivamente dedicados às reprises de novelas.
Mas, na leva dos dez pontos de
Ibope que a trama vem obtendo, certamente há novos espectadores
-muito jovens ou muito pobres,
ainda fora do mercado de consumo
dos televisores, à época da primeira
exibição, em 1990.
O que será que "Pantanal" ainda
tem de atraente para esses espectadores, menos adestrados pela convenção global? É, de fato, uma pergunta que a coluna faz.
O que dá para arriscar, num nível
puramente hipotético, é atribuir a
esse público "novo", formado nesse
hiato entre a primeira e a quarta exibição (a Manchete transmitiu outras
duas reprises), uma preferência pela
diversidade e pela novidade -mesmo que uma já entrada em anos.
E, de resto, "Pantanal", ontem ou
hoje, acertou o passo ralentando-o,
escandindo as cenas -até, na verdade, o ponto da saturação- e interiorizando o Brasil.
Continua funcionando a opção
por uma história mais simples, de
gente mais simples e ancorada no espetacular cenário das terras alagadas do interior do Mato Grosso.
biabramo.tv@uol.com.br
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