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LIVROS
Historiador tenta abarcar o Brasil em mil páginas
Com a mulher, Carlos Guilherme Mota lança uma história do país e reedita tese dos anos 70
Livro pega carona na moda de história para leigos
que teve início com os lançamentos referentes aos 500 anos do Descobrimento
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
O historiador Carlos Guilherme Mota causou certa sensação no meio acadêmico brasileiro em 1977, quando publicou
sua tese de livre-docência,
"Ideologia da Cultura Brasileira". A obra, definida então por
Antonio Candido como "livro
do contra", é relançada agora
pela editora 34. O ambicioso
ensaio tentava analisar os fundamentos ideológicos por trás
das interpretações do Brasil
entre 1933 e 1974.
Em seus trabalhos seguintes
o historiador não repetiu o
mesmo êxito, mas foi construindo uma carreira de professor universitário, passando pelo departamento de história da
Universidade de São Paulo, a
Fundação Getulio Vargas e o
Mackenzie. Também dirigiu o
Instituto de Estudos Avançados da USP e foi professor-visitante de algumas universidades
européias e norte-americanas.
Durante essa trajetória também ganhou fama de polêmico,
acusado aqui e ali de gostar demais de aparecer na mídia.
Agora, com a mulher, Adriana Lopez, Mota propôs-se a
contar a história do Brasil num
só volume, "História do Brasil:
Uma Interpretação", imenso
catatau de 1.056 páginas, que
será lançado no mês que vem.
"Queríamos fazer um livro
que atingisse o público comum,
que fosse acessível ao meu dentista, por exemplo", diz Mota.
Para o casal, desde 2000, quando se comemoraram os 500
anos do Descobrimento do
Brasil, vem-se formando um
público leitor de obras de história fora do mundo acadêmico.
Mota elogia o best-seller de
Laurentino Gomes sobre os
200 anos da vinda da corte ao
Brasil ("1808", ed. Planeta). E
crê que o ideal é chegar a um
meio-termo entre o tipo de linguagem utilizada por ele e a
adotada por Eduardo Bueno,
gaúcho que lançou a moda de
"história para não-especialistas" com sua exitosa série sobre
o início da colonização.
Mota conta que, por causa da
empreitada, releu boa parte dos
autores fundamentais de sua
formação, como C.R. Boxer,
Florestan Fernandes, Evaldo
Cabral de Melo, José Murilo de
Carvalho e Caio Prado Junior.
"Muito atrasado"
Sobre Prado Jr., a quem conheceu pessoalmente, conta
uma anedota. Diz que o conheceu nos seus últimos anos de vida. E que, em certa ocasião,
perguntou a ele se poderia fazer uma síntese da história do
Brasil, em poucas palavras. O
autor de "Formação do Brasil
Contemporâneo" teria respondido, pausadamente: "O Brasil
é um país... muito atrasado".
Mota então se angustiou: "Que
mais, Caio? Eu queria algo que
pudesse guardar para a posteridade". E então veio uma segunda frase: "Toda história do Brasil sempre foi um negócio".
Em "História do Brasil: Uma
Interpretação", Mota e Lopez
partem dessa idéia, e desenvolvem conceitos tomados de Raymundo Faoro e Florestan Fernandes para afirmar que o modelo autocrático burguês é um
legado colonial do qual até hoje
o Brasil é tributário.
"No período atual, esse modelo autocrático burguês se
mostra nitidamente consolidado. Temos o Fernando Henrique Cardoso com suas negociações, sua idéia de conciliação
pelo alto, de costura feita por
cima. E Lula não consegue mudar a política econômica. A mobilização que ele consegue fazer fica ainda no nível de um esquema assistencialista."
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