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LIVROS
Comentário
Obra polemiza ao avaliar atores políticos
OSCAR PILAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
É
severa a avaliação que
Adriana Lopez e Carlos
Guilherme Mota fazem
da evolução política e social do
país em "História do Brasil:
Uma Interpretação". Para eles,
traços de arcaísmo impregnados no modelo autocrático-burguês revelam a persistência
do ranço da tradição escravista.
Não que os autores deixem
de reconhecer algum avanço.
"O país caminha a passos largos, embora ziguezagueantes,
para a consolidação da democracia representativa", afirmam. O problema, argumentam, é que isso é pouco.
Panorâmica, a obra começa
com a chegada dos primeiros
habitantes, há milênios. É uma
história que se encontra condensada em vasta bibliografia.
O diferencial de Lopez e Mota
foi ter esticado essa síntese à
atualidade, objeto mais do relato jornalístico do que da reflexão histórica.
Ao esboçar uma avaliação de
atores políticos que continuam
em cena, os historiadores
abrem espaço para a polêmica.
Para eles, o governo de Fernando Henrique Cardoso teve
saldo positivo. Além da estabilidade financeira, houve alijamento (embora tardio e incompleto) de lideranças coronelistas, combate à corrupção e vitórias nas áreas de saúde e educação. Em contrapartida, FHC
transigiu demais com conservadores e fisiológicos.
Quanto a Lula, cada vez mais
neopopulista, "vem fazendo
um governo aquém do que se
esperava em termos de compromissos sociais". Há decepção nesse juízo, não surpresa.
Os autores citam a visão do historiador marxista inglês Perry
Anderson, para quem o discurso "paz e amor" de Lula foi uma
derrota antecipada da causa social. O Brasil, segundo Anderson, é o país do transformismo,
"a capacidade que possui a ordem estabelecida de abraçar e
inverter as forças transformadoras, até que fica impossível
distingui-las daquilo que se
propunham a combater".
O livro não é isento de problemas. A morte de Ulysses
Guimarães, em 1992, dificilmente foi um "percalço" da travessia entre ditadura e democracia. O capital político do "Senhor Diretas" se esgotara na
eleição de 1990, quando teve
menos de 5% dos votos.
Em outra passagem, os autores afirmam que na primeira
eleição de FHC esperava-se um
"mergulho de profundidade da
direita para a esquerda". Naquela altura, porém, já estava
selado o acordo com o PFL, que
sinalizava em direção oposta.
Há, ainda, pelo menos um arriscado condicional. José Serra,
"se tivesse chegado lá" [à Presidência], teria "garantido o ataque imediato a questões que
permanecem pendentes".
Lopez e Mota se propuseram
a narrar uma história que não
fosse marcada por uma visão
particular. Se esse objetivo não
tirou a unidade do livro, como
temiam, é porque, apesar da
combinação de teses oriundas
de diferentes quadrantes historiográficos, prevaleceu a perspectiva da evolução das conquistas sociais e democráticas.
OSCAR PILAGALLO é jornalista e autor de "A
História do Brasil no Século 20" (Publifolha)
HISTÓRIA DO BRASIL: UMA
INTERPRETAÇÃO
Autores: Adriana Lopez e Carlos Guilherme Mota
Editora: Editora Senac São Paulo
Quanto: preço a definir (1.056 págs.)
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