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TV
Autor, que foi afastado de "Esperança" em 2002, descreve mágoa com a Globo, critica "Celebridade" e volta com novela inédita em 2005
"Novelista é um infeliz", diz Ruy Barbosa
RODRIGO RAINHO SILVA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
As novelas de Benedito Ruy
Barbosa, 73, voltam ao ar a partir
do próximo ano -o tira-gosto é o
remake de "Cabocla" (1979), que
será adaptado pelas filhas Edmara
e Edilene. O pai afirma que será
apenas um consultor. E retorna
para valer em 2005, com uma
obra inédita que vai mostrar histórias da metrópole paulista.
Em seu sítio em Sorocaba, a 90
km de São Paulo, o autor se mostra recuperado dos problemas de
saúde que teve durante a exibição
de "Esperança" (2002).
Enquanto fala de suas novelas,
se gaba todo. Quando o assunto é
política, demonstra raiva e inconformismo. Se o assunto é Movimento dos Sem Terra ou o povo
brasileiro, lágrimas escorrem dos
olhos do novelista que conseguiu
fazer a Globo "balançar", com o
fenômeno "Pantanal" (1990), exibido na extinta TV Manchete.
"Cabocla" foi outro de seus "fenômenos", mas aconteceu em 79,
às 18h. "Esse horário quem implantou fui eu, com "Meu Pedacinho de Chão" (71/72). Foi uma novela que entrou no ar e explodiu.
Foi a única na história, no mundo,
que passava quatro vezes por dia,
na Cultura e na Globo", diz.
Antes de "Cabocla", vieram "O
Feijão e o Sonho" (76), "À Sombra dos Laranjais" (77); depois,
"Paraíso" (82/83), "Voltei pra Você" (83/84), "Vida Nova" (88/89) e
o sucesso internacional "Sinhá
Moça" (86). Do horário das seis e
da Globo ele saiu para tocar "Pantanal", em 1990.
Mágoa com a Globo
A volta ao horário vespertino,
com "Cabocla", após anos na noite, foi presente da Globo, que o
decepcionou em 2002, após tirá-lo do comando de "Esperança" e
colocar Walcyr Carrasco no lugar.
Neste ano, recusou convites para escrever minisséries, como
"Carga Pesada". "Para escrever,
tem de estar com tesão. Ainda não
sinto isso. Estou magoado com o
que aconteceu. Magoado comigo", afirma. "Não me conformo,
me senti derrotado. Sou ariano! E
ariano não sabe perder."
Em meados de 2005, após a sucessora de "Celebridade", Ruy
Barbosa volta ao horário nobre e
quer dedicar um papel da prometida novela urbana a Raul Cortez.
"Se Deus quiser, ele estará na próxima. Não posso falar muito do
personagem, mas vai", afirma.
"Meu contrato com a Globo vai
até 2007. Eu não posso ficar até esse ano sem fazer nada."
Entre as novelas no ar atualmente, a sua preferência é, no mínimo, irônica: "Chocolate com
Pimenta", de Walcyr Carrasco.
"Tem dia que dá mais ibope que a
novela das oito." Afirma que acertou o passo com Carrasco.
"Ele estava muito ressabiado
comigo. Falei para o Mário [Lúcio
Vaz, diretor da Globo]: "Não deixa
esse cachorro na minha frente, eu
dou porrada. Você sabe que eu
sou caipira". Teve uma reunião de
autores, em Angra. E ele veio falar
comigo", narra Barbosa. "Coitado, ele veio tão tímido, é menino
ainda. Abracei-o. Estamos bem."
Faz questão de ressaltar que jamais assumiria uma obra alheia.
"Uma vez o Boni pediu para eu
terminar "Os Gigantes", que Lauro
César Muniz escrevia. Não aceitei", diz. "Novelista é um infeliz,
passa por cada uma." Para voltar
ao batente, parou de fumar e fez
terapia. Engordou oito quilos.
Uma das marcas mais admiradas pelos fãs de Ruy Barbosa não
sai de suas novelas: o tom romancista, de época, sem grandes apelações. Em "Cabocla", afirma que
essa essência continuará. "Você
tem que ter um compromisso
com esse povão. A moral brasileira é heterogênea. Se uma menina
do sertão fizer o que a menina de
Ipanema faz, o pai mata, põe fora
de casa, não aceita isso. Ainda
existe esse conservadorismo."
Sobre o sexo e a nudez do horário nobre em "Celebridade", Barbosa é enfático: "Estão jogando
errado", afirma. "Na medida em
que apelam com sexo, perdem
audiência, não ganham. O erotismo não está na banalidade e na
vulgaridade, que é contraproducente, não estimula. Pelo contrário, dá nojo. Afasta e faz o público
perder interesse."
A nova novela, cuja sinopse está
sendo elaborada, se passa na São
Paulo contemporânea. "Será uma
novela urbana paulista. Não quero mais fazer italiana, chega. Fiz
quatro novelas sobre imigração:
"Os Imigrantes", "Terra Nostra",
"Esperança" e "Vida Nova". Tenho
que inovar."
Mas como escrever história em
São Paulo sem fugir do tema da
imigração? "Não farei a coisa de
forma intencional, o ser humano
é que importa, de que nacionalidade for", diz. "As pessoas se
vêem nas novelas. Por isso é um
produto televisivo imbatível. A
guerra civil da Nicarágua parava
para o povo ver "Sinhá Moça". Não
é mito, é realidade."
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