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"Cabocla" critica coronelismo
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A crítica à política nacional, ao
latifúndio e ao coronelismo sempre vão persistir na obra de Benedito Ruy Barbosa, segundo o próprio autor.
Após a desistência da cúpula da
diretoria da Globo em regravar
"O Profeta" (77), de Ivani Ribeiro,
"Cabocla" ganhou terreno. E faz
jus à mão dura do autor quando
trata de questões polêmicas nacionais. "É uma novela muito romântica, não tem apelação, não
tem sacanagem de nenhum tipo e,
ao mesmo tempo, tem uma temática política que, embora sendo da
época, chega até hoje", diz Barbosa. "Mostra a luta entre os "barrigas cheias" e os "pés descalços",
uma projeção do que seria mais
tarde a luta dos sem-terra."
A novela coloca em conflito dois
coronéis interioranos, chefes políticos de alas diferentes. Um é Boanerges, ex-prefeito, interpretado
por Cláudio Correa e Castro na
época. O outro, Justino (Gilberto
Martinho), é o antagonista, que
tem um filho, Neco (Kadu Moliterno), advogado. O pai quer prepará-lo para ser líder político, mas
o filho discorda dos seus métodos
-com personalidade, o aprendiz
é mais ético que o mestre.
Boanerges, do outro lado, não
tem filho, só uma menina, Belinha (Simone Carvalho). A paixão
do casal é o gancho para todo o
conflito da obra. Para concretizar
a união, os jovens enfrentam a
forte oposição de suas famílias.
"Essa novela termina de uma
forma inusitada, em palanque político", diz o autor. Detalhe: o fim
da novela deve acontecer em época de eleições municipais, no segundo semestre de 2004.
"Cabocla" foi inspirada em romance homônimo de Ribeiro
Couto. Em 1977, a novela teve a
direção de Herval Rossano. No
ano que vem, o núcleo do diretor
Luiz Fernando Carvalho, um velho parceiro de Ruy Barbosa, deve
fazer o remake.
O cenário é de época, data de
1926. Existem muitos romances
paralelos. Na versão original, Fábio Jr. viveu o tuberculoso Luís Jerônimo, que conheceu a caboclinha tímida Zuca, primeiro papel
de protagonista dado a Glória Pires, após o sucesso do papel de
Marisa em "Dancin" Days" (78),
de Gilberto Braga. Ela era a noiva
de Tobias (Roberto Bonfim).
O casal se apaixonava, criando o
embate entre Fábio Jr. e Bonfim.
Havia ainda a presença de Pepa
(Arlete Sales), apaixonada por Jerônimo, uma pedra na vida dele.
Em pleno fim de regime militar,
não era fácil fazer crítica política
em novelas. Barbosa não chegou
a citar problemas com o regime
durante "Cabocla", mas diz que
só pôde tratar de corrupção numa
rival da Globo, a Bandeirantes.
"A última cena de "Pé de Vento"
[junho de 1980] mostrava o personagem morto, com o seu caixão
na sala e a família em prantos",
disse. "Toca a campainha, e a mulher vai atender. Ela recebe do
INSS um telegrama e o leva à mão
do morto: "Toma meu velho, chegou a tua aposentadoria". Na Globo, nunca teria feito. Na época,
não deixavam."
(RRS)
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