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Mostra sobre Saramago virá ao Brasil
"A Consistência dos Sonhos" será inaugurada no Instituto Tomie Ohtake em dezembro deste ano ou no início de 2009
Exposição multimídia usa videoinstalações, fotos e manuscritos para repassar a vida do escritor português, Nobel de Literatura em 1998
MARIO GIOIA
ENVIADO ESPECIAL A LISBOA
Fotos de infância vistas em
forma de cubos luminosos, videoinstalações inspiradas nas
narrativas do escritor e aparatos sonoros por meio dos quais
ele lê suas obras. Esse é o formato da exposição "José Saramago - A Consistência dos Sonhos", que chegará a São Paulo
entre dezembro deste ano e o
início de 2009 -a data ainda
não foi confirmada.
É um formato que remete ao
das mostras do Museu da Língua Portuguesa, que tanto público atraem. Mas a exposição
aportará no Instituto Tomie
Ohtake. Ela iniciou sua trajetória na Fundação César
Manrique, em Lanzarote (Ilhas
Canárias), onde o escritor reside desde 1992, e ficou em cartaz
no Palácio da Ajuda, em Lisboa,
até o último domingo.
"Saramago esteve diretamente empenhado na montagem, vinha diariamente aqui",
conta a diretora do Palácio da
Ajuda, Graça Mendes Pinto,
também à frente do Instituto
dos Museus e da Conservação,
entidade ligada ao Ministério
da Cultura de Portugal que é
uma das organizadoras da exposição. "Ele sempre dizia que
não se lembrava de que guardava alguns manuscritos, documentos e algumas fotografias, e
que tinha de agradecer a Fernando [Gómez Aguilera, curador da mostra] por recuperá-los das caixas em que estavam."
Programa de polícia
A exposição segue uma ordem cronológica, pontuada por
quatro videoinstalações do escocês Charles Sandison. A que
abre a mostra é uma projeção
de feições do escritor, hoje com
85 anos, durante etapas variadas de sua vida, realizada com a
ajuda de um programa de computador que simula as mudanças faciais de desaparecidos e é
utilizado por polícias de diversos países. Como em outros vídeos, Sandison usa as letras como componentes do trabalho.
Na primeira parte da exposição, são explicadas a infância e
a adolescência duras de Saramago, nascido em uma família
de camponeses na cidade de
Azinhaga. Aos dois anos, foi
morar em Lisboa, onde o pai
conseguira um emprego de
agente da Polícia de Segurança
Pública. No mesmo ano, morreu de pneumonia seu irmão
Francisco, aos quatro anos.
Seu dia-a-dia na capital portuguesa foi de privações. A família morou em diversos cortiços em zonas pouco nobres da
cidade. Um pouco mais velho,
transferiu os estudos de um liceu para uma escola técnica,
onde obteve o diploma de serralheiro. A aproximação com os
livros veio nas horas vagas,
quando freqüentava a Biblioteca Municipal do Palácio das
Galveias, no Campo Pequeno.
Todo esse percurso é exibido
por meio de fotografias, vídeos,
manuscritos, documentos e outros tipos de registro, a grande
maioria nunca mostrada ao público (e, no caso de objetos originais, em ótimo estado de conservação). "A abordagem multimídia dá mais dinamismo ao
que poderia ser apenas uma
apresentação de coisas", afirma
Mendes Pinto.
"Terra do Pecado"
A fase literária propriamente
dita da exposição é iniciada na
apresentação do ano de 1944,
quando Saramago começou a
escrever poesia. Em 1947, ele
publicou seu primeiro romance, "Terra do Pecado", que está
"na órbita do neo-realismo",
segundo o escritor.
Na parte dos anos 50 e 60,
aparece um Saramago ainda
não completamente dedicado à
escrita e se equilibrando em
outros empregos (contador,
produtor editorial, tradutor e
jornalista) para se sustentar.
Nos anos 70, tempo da Revolução dos Cravos e de profundas mudanças em Portugal, a
militância política foi mais intensa. Nas duas décadas seguintes, surgiram suas principais obras, como "Memorial do
Convento" (1982), "O Ano da
Morte de Ricardo Reis" (1994),
"A Jangada de Pedra" (1986),
"O Evangelho Segundo Jesus
Cristo" (1991) e "Ensaio sobre a
Cegueira" (1995) -cuja versão
para o cinema, de Fernando
Meirelles, deve estrear em setembro no Brasil. O Nobel de
Literatura veio em 1998 e é tema de uma sala especial.
Brasileiros como Jorge Amado, Nélida Piñon e Caetano Veloso aparecem na exposição em
retratos ao lado de Saramago.
Também é ressaltada sua amizade com o fotógrafo Sebastião
Salgado. A exposição é encerrada com uma minibiografia redigida pelo próprio Saramago.
O jornalista MARIO GIOIA viajou a convite da
organização da mostra
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