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"Exibicionismo escondia timidez", diz historiador
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM BARCELONA
O historiador irlandês Ian
Gibson, 64, é o autor de "A
Vida Desaforada de Salvador Dalí". É também biógrafo do poeta Federico García
Lorca. Mora no povoado de
El Valle, em Granada, onde é
delegado cultural. Por telefone, ele falou à Folha.
Folha - O que achou da programação do centenário?
Ian Gibson - A principal exposição será exibida na Itália
e depois irá para os EUA,
mas não passará pela Espanha. Não tem cabimento.
Folha - A internacionalização das comemorações não
ajudará a divulgar a obra de
Dalí no mundo inteiro?
Gibson - A obra de Dalí já é
bastante conhecida. Muitos
quadros importantes dele
estão nos EUA. Ele é espanhol, é justo que sua obra fique na Espanha. Para conhecer um pintor, é preciso
ter contato com seus quadros originais.
Folha - A obra de Dalí é suficientemente valorizada?
Gibson - Apenas sua pintura. Sua autobiografia, por
exemplo, foi escrita em francês e traduzida para o inglês,
mas não para o espanhol.
Folha - Dalí foi muito criticado em vida por suas atitudes e
suas posições políticas. Qual a
imagem que ficou do artista?
Gibson - Dalí é visto de
muitas maneiras. Para alguns foi um palhaço, para
outros, um gênio. Mas as
pessoas deveriam olhar mais
para a sua obra.
Folha - Dalí sabia usar o
marketing em seu proveito?
Gibson - Sem dúvida. Era
exibicionista, mas suas atitudes no fundo escondiam
uma timidez profunda.
Folha - Você tem uma tese
de que no fundo Dalí era homossexual.
Gibson - Falo disso em
meus livros. Muitas pessoas
com quem ele conviveu me
falaram sobre sua feminilidade, mas ele tinha tanto
medo de se descobrir homossexual que inibia qualquer relação mais íntima
com os homens. Foi assim
com Lorca, com quem manteve profunda relação de
amor, nunca concretizada.
Folha - Qual foi a melhor fase de Dalí em sua opinião?
Gibson - Entre os 25 e os 30
e poucos anos, antes de ir para os Estados Unidos, no auge de sua fase surrealista.
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