Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Jefferson Del Rios lança livro sobre encenador argentino Victor Garcia

Obra revela teatro anticonvencional do diretor, que trouxe irreverência ao Brasil durante ditadura

Lançamento de crítico teatral traz entrevistas com Raul Cortez, Sábato Magaldi, Célia Helena e Antunes Filho

GABRIELA MELLÃO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Sufocante de tão extraordinário. Assim Antunes Filho define o teatro de Victor Garcia (1934-1982), encenador argentino fundamental para o desenvolvimento das artes cênicas do Brasil nas décadas de 1960 e 1970.

Segundo o diretor brasileiro, as montagens "Cemitério de Automóveis", de Fernando Arrabal, e "O Balcão", de Jean Genet, ambas concebidas por Garcia, sacudiram a poeira do teatro nacional.

"Foram criações que abriram a cabeça de todos nós", afirma ele no livro "O Teatro de Victor Garcia "" A Vida Sempre em Jogo", cujo lançamento ocorre hoje.

A obra é fruto de uma década de pesquisa de Jefferson Del Rios, crítico de teatro de "O Estado de S. Paulo". Lança o leitor numa jornada pela mente singular de Garcia e seu teatro anticonvencional, que recusou a linguagem realista e privilegiou a encenação em detrimento do texto dramatúrgico.

Segundo Del Rios documenta, na Europa, o argentino quebrou os cânones do teatro bem-feito e ignorou com insolência tanto o pensamento cartesiano como o peso da tradição literária.

Também foi responsável por trazer criatividade, força e irreverência a um Brasil que vivia oprimido pela ditadura militar. "Havia inventividade na cena local, apesar dos cerceamentos, e Victor somou forças, mostrou que, sim, o teatro se ilumina e nos ilumina na audácia. Que o espetáculo, qualquer um, é uma luta contra o medo, a obediência", diz o jornalista.

Del Rios renega a imagem de artista maldito associada a Garcia. Seu livro apresenta um retrato multifacetado do argentino.

É dividido em duas partes. A primeira recupera a trajetória do diretor reconstruindo 19 anos de encenações feitas por ele em oito países de três continentes. A segunda, em formato de entrevistas e intitulada "Caderno de Testemunhos", traz olhares sobre sua vida e obra ao dar voz a familiares e artistas.

Nela, o crítico Sábato Magaldi rememora a aversão ao realismo e a "imaginação desenfreada" do encenador, exaltando sua genialidade.

Raul Cortez (1932-2006) e Célia Helena (1936-1997), protagonistas de "O Balcão", relembram ousadias do argentino ao mesmo tempo em que tentam explicar a importância que o encenador teve em suas trajetórias. "Victor ajudou a mudar minha vida como ator", diz Cortez.

Na contramão aos elogios surgem as declarações de Nelson Rodrigues (1912-1980), que descarrega críticas ao "antiteatro" do encenador em artigo sobre "O Balcão" publicado no "O Globo" e reproduzido no "Jornal da Tarde".

A obra de Del Rios faz justiça à história do argentino. "Victor era um latino-americano errante. Morreu pobre e poderia acabar em um rodapé impreciso da história teatral", afirma Del Rios. "Muita coisa mudou nas artes cênicas desde Garcia, mas ele continuará um exemplo de inquietação", conclui.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página