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Crítica musical
Falabella encena 'Alô, Dolly!' dentro do cânone
Ao focar direção nas partituras cênicas e no elenco, diretor concebeu montagem elegante e de execução precisa
Sob o epíteto "um musical da Broadway", o espetáculo "Alô, Dolly!", dirigido por Miguel Falabella, anuncia de imediato em seu título as intenções da apresentação.
A montagem desenvolvida pelo encenador --e protagonista, ao lado de Marília Pêra-- tenciona a grandiosidade e o luxo das produções nova-iorquinas. Alcança o feito.
Sem pretender incorporar inovações estéticas à uma linguagem consagrada, Falabella concebeu o espetáculo utilizando-se das estruturas tradicionais do musical, concentrando-se na direção do elenco e na precisa execução das partituras cênicas.
O enredo da trama é simples. A casamenteira Dolly Levi (Marília Pêra) é contratada por um avarento comerciante, Horácio Vandergelder (Miguel Falabella), que a incumbe de lhe arranjar uma mulher na cidade grande.
Paralelamente, os funcionários de Vandergelder e a pretendente ao posto de noiva e sua funcionária envolvem-se em toda sorte de confusões, motivadas por falta de dinheiro e mentiras.
A história do musical toma como base a comédia "The Merchant of Yonkers", de Thornton Wilder, que por sua vez fora inspirada em "A Day Well Spent", de John Oxenford e "Einen Jux Will Er sich Machen", de Johann Nestroy.
Em 1954, Wilder renomeia a peça para "The Matchmaker". Essa longa genealogia culmina na montagem de "Hello, Dolly!" (1964), de Michael Stewart e Jerry Herman, sucesso em cartaz por 2.844 apresentações e vencedor de dez prêmios Tony.
CÂNONE DO MUSICAL
Ao decidir não quebrar esses paradigmas históricos em sua versão do musical, Miguel Falabella, mais do que simplesmente prestar um tributo a um dos maiores ícones da Broadway ou entreter a plateia com boas risadas, dá uma aula de encenação.
O elenco, o ensemble e os bailarinos demarcam milimetricamente suas posições nas danças e seus tempos musicais. Ninguém fica alijado da cena e todos mostram potência vocal adequada.
O cenário faz tributo a uma arquitetura cênica retrô, com os elementos bidimensionais entrando pelas laterais do palco, sem invencionices, o que amplifica o ar de inocência típico do estilo musical.
Para a narrativa, que mostra a virada do século 19 para o 20, Fause Haten elaborou um figurino de elegância ímpar, que remete com precisão a "belle époque", sem com isso limitar o movimento dos atores e dançarinos.
A iluminação de Paulo César Medeiros acompanha com harmonia as trocas de cenários e está em consonância com a orquestra de 16 músicos regida por Carlos Bauzys.
Certa vez, o crítico Elliot Norton escreveu em um ensaio que "o público da Broadway insiste em deixar sua inteligência e suas emoções mais profundas no saguão do teatro, juntamente com seus sobretudos e chapéus".
Para espectadores não habitués do gênero musical que tenham interesse em superar preconceitos dessa natureza e para aqueles que já lotam as sessões cada vez mais frequentes no Brasil, esta montagem é um bom ensejo.