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Crítica - Thriller
Filme é ilustração nem sempre interessante do kardecismo
SÉRGIO ALPENDRE COLABORAÇÃO PARA A FOLHAEm "Carrie "" A Estranha" (1976), de Brian De Palma, vemos logo no início uma cena rodada em câmera lenta dentro de um vestiário feminino com alunas adolescentes. Após percorrer todo o recinto, o foco concentra-se no banho tomado por Sissy Spacek.
Parece propaganda de sabonete. Mas é proposital, pois o efeito buscado pelo diretor é um contraponto entre o utópico e o aterrorizante, elementos onipresentes na vida dos adolescentes.
"Causa & Efeito", novo filme de André Marouço, começa de forma parecida: uma família brinca feliz em câmera lenta, como num comercial de margarina.
O efeito buscado também é semelhante: mostrar o contraponto entre uma vida idílica e a realidade dura que insiste em marcar presença com seus desagradáveis incidentes.
Marouço é também diretor de "O Filme dos Espíritos", de 2011, como enfatiza o material para a imprensa.
TRAGÉDIA
No filme, mãe e filho são atropelados por um homem alcoolizado, enquanto o pai, na calçada, testemunha a tragédia. Meses depois, o motorista é inocentado, mas no plano real, não no espiritual. A culpa o deixa em frangalhos.
Acontece que o pai traumatizado é um ex-policial. Por uma artimanha do passado, torna-se assassino de aluguel de um promotor inescrupuloso.
Quando recebe a missão de matar a amante do promotor, tem sua vida novamente mudada.
Não é necessário escrever mais sobre a trama. Estamos no terreno do thriller, e, ao mesmo tempo, do filme espírita (e essa segunda vertente não demorará a aparecer).
Por pertencer a um dos gêneros mais bem-sucedidos dos últimos anos, deve fazer certo sucesso (talvez até um grande sucesso).
Na verdade, o filme se resume a uma ilustração nem sempre interessante das ideias kardecistas.
Mas não é indicado somente aos espíritas.
Alternando momentos dignos e outros que beiram o constrangedor, "Causa & Efeito" consegue manter um interesse mínimo sem nenhum ator global, algo que raros blockbusters brasileiros recentes conseguem.