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Crítica - Documentário
Obra dá voz a diretor Ozualdo Candeias e mostra seu gênio
Cineasta tem a trajetória contada em filme dirigido por Eugênio Puppo
Criador singular, Ozualdo Candeias, morto em 2007, ocupa um lugar único no cinema brasileiro. Estreou na direção de longas-metragens com mais de 40 anos, em 1967, com o enigmático "A Margem", que lançava um olhar terno aos deserdados, mas sem qualquer comiseração ou paternalismo.
A partir daí, construiu uma carreira solitária, filmando sempre com parcos recursos e muita liberdade de tom, distante dos movimentos e tendências estéticas que marcaram aquela época.
Filho de agricultores, passou a juventude perambulando entre Mato Grosso, São Paulo e Rio de Janeiro, trabalhando como vaqueiro, office-boy, operário, contador, motorista de caminhão --entre outras ocupações.
A observação social desenvolvida durante esse período foi decisiva na construção do seu olhar como cineasta: a partir da realidade mais crua, frequentemente sórdida e violenta, Candeias extraía uma desconcertante poesia ""lembrando de certa forma Pier Paolo Pasolini (1922-75).
Pouco reconhecido pela crítica, escassamente estudado pela academia e praticamente desconhecido do público contemporâneo, o cinema de Candeias ainda guarda seus mistérios. Isso só aumenta a importância deste documentário dirigido e produzido por Eugênio Puppo --conhecedor de sua obra e curador de uma mostra dedicada ao cineasta em 2002.
Puppo dá voz a Candeias, que conta sua longa trajetória de vida e de criação cinematográfica, enquanto fragmentos de seus filmes --dos curtas amadores dos anos 1950 ao último longa, o ainda inédito "O Vigilante" (1992)-- tomam a tela.
A força dessas imagens, que chamam a atenção pelo despojamento e pelo grande apuro visual, deixa clara a genialidade do cineasta. Seus filmes sempre privilegiaram a imagem em relação à palavra, que, colocada em segundo plano, abria o espaço da faixa sonora para experiências das mais diversas.
Inventivo e livre, o cinema de Candeias não envelheceu: seu olhar crítico às mazelas sociais --mesmo não tendo intenções diretamente políticas-- continua sendo ferramenta de conhecimento de uma realidade problemática.