Crítica cinema/drama
Woody Allen é menos original em filme 'sério'
Em 'O Homem Irracional', com Joaquin Phoenix, pensamento do diretor parece menos denso que nas comédias
"O Homem Irracional" retoma a ideia central dos filmes mais recentes de Woody Allen: acima da razão, acima do esforço, acima do pensamento, o destino do homem é regido pelo acaso. Tudo pode dar certo ou errado: o certo é que o resultado está fora de nosso alcance.
No caso, acompanhamos a trajetória de Abe (Joaquin Phoenix), carismático professor de filosofia que chega a uma universidade. Polêmico por seu trabalho, Abe tem a capacidade de fascinar as mulheres. Como a professora Rita, que cai matando em cima dele, ou Jill (Emma Stone), a aluna talentosa.
Abe, no entanto, não se vê com nenhuma delas. A existência não tem mais sentido para ele. De aula em aula, de conversa em conversa, o que transmite é a sensação de alguém esvaziado.
Isso até que escuta a conversa de uma mulher que discute na Justiça a guarda do filho e está sendo vítima de um juiz venal. A única solução viável para o caso seria a morte do juiz. E por que não?
É quando começa a meditar sobre a hipótese de produzir um crime perfeito. Não há uma troca de crimes, como em Hitchcock, mas ele não conhece o juiz, não tem razão para matá-lo etc, etc. Ninguém suspeitaria, em suma. É a passagem do racional ao irracional.
A partir daí, o que se anuncia como um drama talvez ligeiro (talvez não) é tomado pelo gênero policial. É disso que se trata. De matar alguém e escapar do castigo. Escapar, também, a tudo que pensava sobre ética, entre outros. Que importa? Sentia-se vivo. Matar para fazer justiça torna-se a razão de existir.
A partir daí, também, podemos pensar no tipo de problema que embute o cinema de Woody Allen sempre que assume a gravidade dos gêneros "sérios". A vantagem de sua comédia é que pode dizer e desdizer no mesmo gesto –e é disso que Woody costuma tirar partido magnificamente em suas comédias: como se o que afirma pudesse ser negado no momento seguinte e no mesmo movimento de pensamento.
Essa é a grande vantagem da comédia (e a de Woody Allen em particular): à custa de fazer tudo parecer insignificante é que adquire e mostra seu sentido forte.
Essa é a grande desvantagem de seus filmes "sérios": são, como "O Homem Irracional", agradáveis de ver, fáceis de acompanhar, trazem sempre observações oportunas, diálogos inteligentes, atores bem dirigidos etc. É, no entanto, nos momentos em que Woody troca seu olhar desconcertado e desconcertante ao mundo por um ar de seriedade que seu pensamento parece menos denso, menos original. É o que temos neste filme mais que simpático.
O HOMEM IRRACIONAL
(IRRATIONAL MAN)
DIREÇÃO Woody Allen
ELENCO Joaquin Phoenix, Emma Stone, Joe Stapleton
PRODUÇÃO EUA, 2015, 14 anos
QUANDO estreia nesta quinta (27)
AVALIAÇÃO bom