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Crítica / Drama Atores são o ponto fraco em montagem sobre peça de Joyce DO CRÍTICO DA FOLHADrama desnaturado. "Exilados", montagem da única peça escrita pelo irlandês James Joyce (1882-1941), desfigura a estrutura do original numa encenação estilizada. Com esta opção, o encenador, o cineasta Ruy Guerra, torna o texto mais solene do que pede seu caráter naturalista. Joyce escreveu a peça em 1918 quando morava em Zurique, na Suíça. Reverberou nela a experiência de seu autoexílio da Irlanda, com a companheira Nora, desde 1904, dez anos dos quais passados em Trieste. O personagem central desta obra calcada em Henrik Ibsen (1828-1906), o dramaturgo que Joyce mais admirava, é um escritor que exilou-se em Roma amasiado com uma jovem irlandesa. Na trama, que Joyce definiu como "três atos de gato e rato", há um triângulo amoroso formado pelo escritor, a bela jovem exilada com ele e um amigo comum, jornalista, que ficara na Irlanda. A ação começa com o retorno do casal a Dublin e a reativação de antigas paixões. A adaptação do diretor e de seu assistente, Diogo Oliveira, condensa os três atos numa sucessão de cenas bem formalizadas e separadas entre si por blecautes. O cenário de Marcos Flaksman convenciona um espaço despido de referências realistas, com um pano de fundo sugerindo o emaranhado de uma teia e dezenas de cadeiras espalhadas. A favorecer a alternativa da estilização, o desenho de luz de Maneco Quinderé alcança momentos marcantes, criando uma sucessão de camadas de claros e escuros que emolduram as sensações conflituosas dos personagens centrais, repletos de dúvidas e suspeições. Já os atores apresentam desempenhos desiguais e se revelam o ponto mais fraco do espetáculo, que fica muito aquém do texto. O mais à vontade, e com um registro apropriado à natureza coloquial dos diálogos, é André Garolli, como o escritor. Álamo Facó parece perdido como o jornalista, em um tom impostado que contrasta com o dos demais atuantes. Mas o trabalho mais decepcionante é o de Franciely Freduzeski, incapaz de tornar verossímeis os arroubos e as negações da disputada personagem Bertha. "Exilados" vale para conhecer a peça de Joyce, mas parece uma anacrônica e desajeitada visita aos primórdios do teatro do século 20. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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