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Folhateen Do jeito que é Para especialista, campanha de Lady Gaga pela autoestima vai ajudar adolescentes a tratarem anorexia e bulimia RODRIGO LEVINOEDITOR-ASSISTENTE DA “ILUSTRADA” Na semana passada, milhões de adolescentes foram convocados por Lady Gaga a aceitarem seus corpos do jeito que eles são: magros, gordos, pouco importa. "Seja corajoso e celebre seus defeitos perceptíveis condenados pela sociedade", escreveu ela em seu site e nas redes sociais. A campanha "Body Revolution 2013", lançada pela cantora em resposta às críticas que recebeu recentemente por estar mais, digamos, "cheinha", trouxe à tona uma revelação grave. Desde os 15 anos, Gaga diz sofrer transtornos psicológicos alimentares. Trocando em miúdos, ela tem bulimia e anorexia, os mais comuns do gênero, que atingem cerca de 4% da população mundial, segundo a Organização Mundial de Saúde. Adolescentes respondem por dois terços da estatística. Não é sempre que os dois distúrbios ocorrem juntos. A anorexia é fruto de uma busca incansável pela magreza. Para tanto, são usados métodos como jejuns, excesso de exercícios físicos, vômitos provocados e uso de remédios, desde laxantes a moderadores de apetites. A bulimia, por sua vez, envolve dois aspectos. Primeiro a compulsão alimentar -o paciente perde o limite e come muito além do que pode. Depois, envergonhado e arrependido, recorre a vômitos e remédios para perder o que ingeriu. Nos dois casos, a realidade se turva para o paciente. Quanto mais ele emagrece, mais peso quer perder. Quanto maior a compulsão por alimentos, mais radicais os meios para expulsar a comida que foi ingerida. A causa dessas doenças pode ser genética, mas o bem-estar psicológico está intimamente ligado às manifestações dos sintomas. "Várias coisas podem funcionar como gatilho desses transtornos: falta de comunicação na família, sofrer bullying na escola, o fim de um namoro ou a busca pelo encaixe em determinados modelos de beleza", explica o psiquiatra Takí Cordás. Foi Cordás que criou, em 1992, o Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares do Hospital das Clínicas, em São Paulo, o primeiro do ramo no Brasil. Na época, os atendimentos eram raros e pouco se falava do assunto. A média de atendimentos era de um a cada 15 dias. Hoje, o Ambulim, como é conhecido, tem um braço que atende adolescentes, todos gratuitamente. Cerca de 3.000 pacientes de todo o Brasil recebem tratamento (que pode incluir internação) permanente. TRATAMENTO Desde 2001, quando foi iniciado o atendimento a crianças e adolescentes, 94 (11% do total é de garotos) foram tratados e até hoje são monitorados pela equipe. O processo é multidisciplinar e aborda desde aspectos alimentares à reconstrução da autoestima, como pretende o projeto de Lady Gaga. Médicos, terapeutas, nutricionistas e professores de educação física são envolvidos no processo. Primeiro, se busca a conscientização do problema. Depois, a ideia de que é possível ser feliz com o corpo que se tem. "A moda, a publicidade, a TV, tudo isso trabalha para que você se adeque a um determinado padrão. Adolescentes são mais suscetíveis a essa massificação e, quando não se acham adequados a ela, podem terminar em um círculo vicioso e doentio", alerta Takí Cordás. Pais, amigos e professores não devem subestimar episódios de compulsão alimentar ou de vômito forçado. "Às vezes, isso é a semente de algo maior e mais grave. Pouco importa se Lady Gaga vai vender mais discos por causa da campanha; o que importa é ela chamar a atenção para um problema para o qual o melhor tratamento ainda são a informação e o diagnóstico precoce", diz Cordás. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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