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Começar de novo Primeira Mostra Internacional de Cinema de SP sem seu criador, Leon Cakoff, é aberta hoje com filme que expõe cicatrizes da ditadura chilena
DE SÃO PAULO O ator Gael García Bernal, 33, não fazia ideia do quão especial seria seu novo longa, "No", ao topar o convite do diretor chileno Pablo Larraín em um jantar em Santiago. "Vamos ver aonde ele vai nos levar", disse à Folha um dia após a exibição do filme em Cannes, em maio. A resposta à divagação do mexicano não demorou. "No" venceu a Quinzena dos Realizadores, mostra paralela mais importante do festival, e abre hoje a 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em uma sessão para convidados no Auditório Ibirapuera. O longa conta a história de um publicitário (Bernal) que trabalha na campanha pelo "Não" no plebiscito que decidiria se o ditador Augusto Pinochet (1915-2006) ficaria no poder do Chile, em 1988. Como um Don Draper (da série "Mad Men") politizado, o personagem utiliza artifícios de propaganda para criar a ilusão de um futuro promissor -o que era encarado como uma afronta à ideologia de quem combatia a ditadura. "O filme mostra que, se queríamos ganhar, precisaríamos usar as mesmas armas da oposição", afirma o ator. "Naquele momento, os publicitários necessitavam das promessas de que o Chile seria mais ensolarado." O filme de Larraín, parte da "trilogia da ditadura" -iniciada por "Tony Manero" (2008) e continuada por "Post Mortem" (2010), ambos também em exibição nesta Mostra-, foi filmado com câmeras de vídeo da década de 1980 para reforçar o clima de época. Mas os questionamentos políticos são atuais. "Eleições são uma bagunça em qualquer canto do mundo. Ter só a democracia não basta mais. Precisamos pensar no que vamos fazer agora", diz Bernal. "Somos jovens na compreensão do jogo democrático. A primeira contradição da democracia é saber viver com o fato de que alguém vota diferente de você." Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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