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Análise
Teatro político moderno deve se contrapor às tendências produtivas dominantes
SÉRGIO DE CARVALHO ESPECIAL PARA A FOLHAA frase feita de que "todo teatro é político" contém um fundo de verdade: toda representação tem ponto de vista, visão de mundo, mesmo quando o assunto é apolítico.
A opinião teatral às vezes é explícita: o grego Aristófanes era um gênio reacionário.
Em "As Nuvens", satirizou as posições avançadas de Sócrates e fez um estrago político, que na distância parece inofensivo. Quando o tema se escancara, torna-se mais fácil a pergunta: de que lado está a peça? A que visão de mundo ela serve?
Mas não é só nos assuntos que a politicidade teatral se manifesta. Mesmo uma peça aparentemente não engajada diz coisas sobre a sociedade e sua época por meio de sua "atitude formal".
Brecht dizia que não tomar partido em arte é tomar o partido dominante. Tinha em mente que a ideologia é mais violenta onde não se explicita por discursos.
Pensava que os ritmos, formas e padrões sensíveis correspondem também a dinâmicas sociais. Dizia acreditar que uma forma teatral contém uma relação já determinada pelo aparelho produtivo (que, numa sociedade mercantil, está marcado pela expectativa de consumo).
O conceito moderno de teatro político, para se tornar preciso, deve ser atribuído às experiências contrárias às tendências temáticas, formais e produtivas dominantes.
Na história do século 20, foi o caso de artistas como Meyerhold, na União Soviética, e do CPC no Brasil: experimentaram formas como teatro jornal e documentário teatral na contramão do mercado das artes, porque não estavam isolados, tinham relação com um movimento social organizado.