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Estudo da USP, em 550 plantas de apartamentos da cidade de São Paulo, revela que, ao longo do século 20, o quarto
está 50,26% menor, e a sala, 37,80%
O APARTAMENTO ENCOLHEU
RENATA DE GÁSPARI VALDEJÃO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Uma sensação de aperto se apodera, cada vez mais, dos moradores de apartamentos na cidade de
São Paulo. E essa inquietude já
pode ser comprovada em números: ao longo do século 20, o quarto teve sua área reduzida em
50,26%, a sala, em 37,80%, e a cozinha, em 13,46% (veja quadro).
As conclusões são de uma pesquisa do Nomads (Núcleo de Estudos sobre Habitação e Modos
de Vida) da USP (Universidade de
São Paulo), que analisou 550
plantas de apartamentos oferecidos pelo mercado imobiliário. Os
dados foram agrupados por década e abrangem de 1900 a 2002.
Nos anos 50, os três-dormitórios tinham 140 m2: quartos com
18,80 m2, cozinhas com 10,44 m2 e
salas com 36,78 m2. As medidas
mudaram, nos anos 70, para 12,78
m2, 9,55 m2 e 19,68 m2, respectivamente, e a área caiu para 110 m2.
Do ano 2000 para cá, comparativamente, o tamanho das unidades caiu 22,70%-para 85 m2. Os
quartos encolheram pela metade
-têm 9,35 m2. As cozinhas, agora
com 8,10 m2, agrupam equipamentos de lavanderia. As salas estão com 22,86 m2, mas acumulam
as funções de estar e de refeições.
"Os apartamentos se compartimentaram. Alguns cômodos sumiram, e outros surgiram. Antes,
havia um banheiro para toda a família. Nos anos 60 e 70, a suíte começou a se popularizar", analisa o
arquiteto Marcelo Tramontano,
45, coordenador do Nomads.
O apartamento paulistano sofreu sua primeira modificação na
década de 30, para se enquadrar
no perfil francês da belle époque
(século 19). "O modelo atual, com
divisão em zonas de serviço, social e íntima, veio para o Brasil na
esteira da industrialização."
Foi só nos anos 70, quando o
mercado imobiliário deu início ao
seu processo de profissionalização, que entrou em cena a visão
do lucro, o que homogeneizou as
plantas. "O custo dos terrenos e
dos materiais começou a subir."
No Japão e na França, a área das
habitações aumentou após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Com o desenvolvimento
econômico, elas foram ampliadas, mas ainda são pequenas,
comparando-se às do Brasil: em
Tóquio, o tamanho médio das
moradias saltou de 25,41 m2, em
1963, para 36,28 m2, em 1993.
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