São Paulo, domingo, 11 de agosto de 2002

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CONDOMÍNIO

Condômino denuncia síndico desonesto

ELENITA FOGAÇA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Um misto de coragem, determinação e força tomou conta da dona-de-casa Flora Caminha, 57, quando decidiu investigar as contas do condomínio onde morava. "Desconfiei porque os valores mensais com gastos extras eram absurdos", lembra.
Vista com desconfiança pela síndica, ela chegou a ser agredida quando descobriu um superfaturamento de R$ 6.000 na reforma da guarita, além do fato de o condomínio estar prestes a comprar um equipamento de segurança de última geração.
"A síndica estava gastando os "tubos" de dinheiro. Fizemos um abaixo-assinado e conseguimos impedir a continuidade de seu mandato. Mas, antes de prestar contas, ela desapareceu do condomínio", recorda Caminha.
As frequentes visitas de fiscais da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) e da Eletropaulo (Eletricidade de São Paulo) ao edifício onde mora, no Sumaré (zona oeste de São Paulo), em 2000, fizeram que Vladimir Spiandorello, 36, desconfiasse de inadimplemento nas contas.
Na época, como subsíndico, solicitou à administradora os comprovantes do banco. "Por incrível que possa parecer, todos estavam com os registros de autenticação de pagamento, mas, para nossa surpresa, eram falsificados", relembra.
Mas o prejuízo causado pela administradora Selimart, que não existe mais, não ficou somente nas contas de água e energia. "Arcamos com R$ 60 mil de débitos atrasados do INSS [Instituto Nacional do Seguro Social" dos funcionários", diz. "Abrimos processos, mas os donos "sumiram do mapa"."
Problemas com administradoras e síndicos de má índole são tão corriqueiros que o juiz Antonio José Ferreira Carvalho reuniu alguns casos no livro "O Condomínio na Prática" (editora Lumen Juris), que aborda ainda leis condominiais.
Em um dos relatos, o advogado destaca o problema de um prédio que teve os serviços de água e energia interrompidos pelo fato de o síndico não ter pagado as contas. Há também casos nos quais a administradora fraudava o condomínio.

Realidade
"Infelizmente, administradoras e síndicos mal-intencionados são fáceis de encontrar", diz José Roberto Graiche, presidente da Aabic (associação das administradoras de condomínios). "É o síndico que contrata a administradora, portanto é responsável pela empresa que escolhe. Se ele não é uma pessoa honesta, certamente procurará uma empresa que compactue com suas fraudes", alerta.
Cássio Thut, vice-presidente de condomínio e relações com o mercado do Secovi-SP (sindicato de construtoras e imobiliárias), pondera que existe uma outra probabilidade para que o síndico não cumpra com os pagamentos do prédio. "Pode ocorrer por insuficiência de recursos em função dos con- dôminos inadimplentes."
Mas, nesse caso, o síndico tem a obrigação de avisar os demais moradores sobre a situação para evitar que serviços essenciais sejam interrompidos, como o fornecimento de água e energia. "Os condôminos também têm o direito de solicitar ao síndico as pastas com as prestações de conta para ter certeza de que tenham sido pagas."
Os especialistas do setor imobiliário são unânimes em afirmar que a falta de participação dos moradores nas reuniões de condomínio e o desinteresse pelo que ocorre no prédio facilitam a ação de síndicos e administradores com más intenções. "As pessoas têm de ter interesse em saber no que estão gastando o dinheiro delas", afirma.



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