São Paulo, domingo, 15 de setembro de 2002

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CASA PRÓPRIA

Resolução, já em vigor, obriga bancos a investirem R$ 200 milhões por mês em financiamento de imóveis

BC injeta R$ 33 bi em crédito imobiliário

Fernando Moraes/Folha Imagem
BARRADOS NO BANCO A farmacêutica Lucy Marie Nunes desistiu de um imóvel após tentar crédito em cinco bancos em vão

CÁSSIO AOQUI
DA REPORTAGEM LOCAL

Dispostas a comprar um imóvel, as irmãs Delma Nunes, 40, e Lucy Marie Nunes, 37, chegaram a procurar cinco bancos para obter um financiamento. Resultado: obstáculos e tentativas frustradas.
"Parecia que eu estava pedindo esmola. Encontramos exigências absurdas, como necessidade de renda de R$ 7.000 para financiar apenas R$ 40 mil. E ainda sem poder incluir minha irmã na composição da renda, afinal, um casal pode ter casa própria, mas duas irmãs não", ironiza Delma Nunes.
Já o cabeleireiro Pedro Oliveira, 33, teve um prejuízo de R$ 3.950 entre sinal do apartamento e documentações. "O crédito não saiu, perdi dinheiro e acabei desistindo do imóvel, mesmo possuindo renda para comprá-lo", conta.
Casos como esses, embora comuns, já podem estar com os dias contados. É que, desde 1º de setembro, está em vigor a resolução nº 3.005 do CMN (Conselho Monetário Nacional), que reordena a obrigatoriedade de os bancos destinarem 65% dos recursos da poupança ao crédito de imóveis.
Embora estabelecido em lei, o percentual não vinha sendo cumprido porque boa parte dos recursos era destinada a compensar o prejuízo dos bancos com o recebimento de títulos do FCVS (Fundo de Compensação de Variações Salariais). Com a resolução, esses recursos voltarão aos poucos ao financiamento imobiliário.
Na prática, a medida injetará ao menos R$ 200 milhões por mês no mercado de imóveis durante cem meses. A estimativa é que, no total, R$ 33,7 bilhões sejam destinados à aquisição da casa própria.
"O montante permitirá a produção de mais 50 mil unidades por ano e facilitará a concessão de crédito, hoje tão restrita", comemora o diretor do Secovi-SP (sindicato das imobiliárias e construtoras) Celso Luiz Petrucci, 48.

"Vistas grossas"
De acordo com o presidente da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), Luis Roberto Ponte, a maior vantagem é que "a poupança continuará fonte de recursos para a habitação". "Só esperamos que o Banco Central não faça "vistas grossas", senão os bancos não cumprirão as regras", diz.
Eduardo Zaidan, do Sinduscon-SP (sindicato das construtoras), dispara: "Os dados de recursos da poupança sempre foram uma caixa-preta, por isso tantas dúvidas".
A expectativa do setor é que os mecanismos de controle estejam definidos até 9 de outubro, quando acontecerá o Encontro Nacional da Indústria da Construção.
Procurada, a Abecip (Associação Brasileira das Empresas de Crédito Imobiliário e Poupança), que responde pelos agentes financeiros privados, não se pronunciou sobre o assunto.


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