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SÃO PAULO EM ZONAS - NORTE
Incorporadoras diminuíram metragem média dos "populares" nos últimos cinco anos, para caberem no bolso da classe média
Mais barato, apartamento encolhe 10%
EDSON VALENTE
ELENITA FOGAÇA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A zona norte caminha na direção contrária do restante da cidade. Segundo pesquisa realizada
pelo Datafolha, a área útil dos
apartamentos diminuiu, em média, 10% nos 18 distritos da região,
contra um aumento médio de
11% em São Paulo. O metro quadrado, por outro lado, ficou 14%
mais barato, entre 1999 e 2003.
"É um reflexo da lei da oferta e
da procura", avalia Luís Álvaro de
Oliveira Ribeiro, 61, consultor da
Adviser Consultores e há 30 anos
no mercado imobiliário. Fazer
apartamentos menores e com
preço mais em conta, afirma, foi a
forma encontrada pelas incorporadoras para atender à classe média, que, além de não ter acesso fácil a financiamentos, perdeu poder de compra nos últimos anos.
Essa mudança provoca até impacto cultural. "A zona norte tem,
tradicionalmente, uma população de origem espanhola e portuguesa, acostumada a morar em
casas e que terá de se adaptar aos
espaços menores", afirma Alexandre Melão, 36, gerente comercial da Atlântica Residencial.
Antonio Claudio Fonseca, 51,
vice-presidente do IAB (Instituto
de Arquitetos do Brasil), pondera
que a diminuição da área dos
imóveis não é exclusividade da
zona norte. "Tem acontecido na
cidade toda, há 20 anos", diz.
Entre 1999 e 2003, de acordo
com as incorporadoras que mais
investiram na região, predominaram na zona norte os lançamentos de apartamentos compactos
de dois e de três dormitórios, os
chamados "populares". Esse é o
perfil, por exemplo, das 525 unidades empreendidas pela Kallas
de 2000 até o ano passado.
"Houve mesmo redução das
metragens", confirma Adriana
Falleiros, 34, gerente de incorporação. "Vendemos dois-dormitórios de 48 m2 e três-dormitórios
de 56 m2 para alcançar o poder
aquisitivo do comprador da zona
norte, que não é muito grande."
"A velocidade de venda dos
dois-quartos é maior pelos perfis
de renda e de classe social", corrobora João Marcos Ceglauskis, 27,
gerente de marketing da incorporadora Tenda. "Quem os compra
são sobretudo os jovens casais
que, em geral, já têm um filho e dificilmente buscam um só dormitório", especifica.
Duas faces
Mas mesmo os apartamentos
com mais quartos têm vez na região. "Há aumento da procura pelos de três e de quatro dormitórios", afirma Antonio Fernando
Guedes, 42, gerente de incorporação da Gafisa. "Em Santana e na
Nova Cantareira, onde o poder
aquisitivo é maior, há até condomínios de casas de alto padrão."
Para Celso Amaral, 44, da consultoria Amaral d'Avila Engenharia de Avaliações, a zona norte se
constitui em uma moeda de duas
faces. "No alto de Santana, mais
elitizado, existem mesmo apartamentos grandes de quatro dormitórios, com até 300 m2", diz. "Já a
parte de baixo da região é mais
empobrecida, e os apartamentos
de padrão mais baixo diminuíram de tamanho para se adequarem ao bolso da classe média."
Silvia Vitale, 36, coordenadora
do curso de arquitetura do centro
universitário Uninove, que tem
campus na zona norte, diz que "o
fato de a região não pertencer à
área de rodízio dos carros e de ser
bem servida de transportes representa para o mercado imobiliário
uma boa demanda de compradores". Outro incentivo, completa, é
o fácil acesso à região central.
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