São Paulo, domingo, 28 de julho de 2002

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ARQUITETURA

Construtores e consumidores estão em busca de um novo estilo

"Popularizado", neoclássico sai de moda no alto padrão

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Assim como no mundo fa- shion, os estilos dos imóveis em São Paulo são ditados pela moda. Pelo menos é o que diz o arquiteto Roberto Candusso, 59, formado pela Universidade de Mogi das Cruzes e autor de 950 projetos. "O ser humano vive desse tipo de influência. Necessita de modismo."
O fato de o neoclássico ter imperado, nos últimos três anos, como um grande diferencial, nada mais é do que um resgate da moda lançada, nos anos 60, por Adolpho Lindenberg, opina. Segundo Candusso, o que era um produto exclusivo do alto padrão foi reeditado e hoje está até nos "populares".
"Quando a moda de roupas cai no gosto popular, as pessoas de melhor poder aquisitivo migram para as novidades", explica. Para ele, o arquiteto não tem de buscar novas referências de clássicos, modernos ou contemporâneos. "Ele precisa evoluir e apresen- tar novas propostas visuais."
Israel Rewin, 59, que assina pelo menos 500 projetos arquitetônicos na cidade, defende que a repetição do uso do neoclássico já venceu seu tempo. "Para oferecer o estilo para as classes média e média baixa, foi preciso baratear tanto os custos que a cidade está repleta de "monstrinhos" anunciados como neoclássicos", critica.
Os dois arquitetos reconhecem que o Brasil não tem histórico de arquitetura própria e é preciso apresentar algo novo ao mercado. "Os construtores e os consumidores estão cansados das mesmas coisas", diz Rewin, que é formado pela Universidade Mackenzie.
Já o arquiteto Itamar Berezin, 40, também oriundo da Universidade de Mogi das Cruzes, diz que seu escritório, responsável por 800 projetos, busca sempre ter uma linguagem própria, mas, mesmo assim, é como dar uma nova leitura ao neoclássico. "As pessoas gostam do status proporcionado pelo estilo, e as construtoras vendem. Por isso, no alto padrão, ele é sempre atual."
Para os decoradores Brunete Fraccaroli, 40, e João Armentano, 42, o estilo neoclássico da fachada não influencia na opção da ambientação interior. "São amplos e absorvem qualquer estilo", diz Brunete. "O fato de não terem bico e serem retos permite tudo."
João Armentano afirma que a decoração tanto dos prédios modernos como dos clássicos pode ser da forma que o morador quiser, e os contrastes do antigo com o moderno são bem-vindos.
No entanto, o decorador faz algumas críticas. "Acho o pior do pior trabalhar, em pleno século 21, com estilos clássicos e ingleses, entre outros. Podemos lidar com a essência de um deles, mas nunca copiá-lo ou reproduzi-lo. Só desvaloriza o imóvel, é triste, é pequeno. Mas é a realidade", desabafa Armentano.
(ELENITA FOGAÇA)


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