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Muralha virtual
Explosão da web na China, que já é o primeiro país em número de acessos, leva autoridades a criar novos controles, como a ciberpolícia
BRICE PEDROLETTI
Com 253 milhões de
chineses conectados,
segundo as últimas
estatísticas do Centro de Informação de
Rede de Internet da China
(CNNIC, na sigla em inglês), o
país é o primeiro do mundo em
uso da rede, à frente dos EUA,
que possuem cerca de 230 milhões de internautas.
O número de chineses que se
conectam à internet (80%
usam banda larga) saltou
56,2% desde junho de 2007. E a
China ainda tem muito potencial, pois o índice de penetração da rede (de 19,1%) ainda é
modesto -no mundo, esse índice é 21,1% em média, nos
EUA e na Coréia do Sul ultrapassa os 71% e, na Índia, é de
apenas 5,3%.
As apostas são grandes, tanto
em termos econômicos quanto
políticos. Pois nas residências
chinesas existem hoje 84,7 milhões de computadores pessoais ligados à rede.
Três quartos dos internautas
se conectam de suas casas,
39,2% em cibercafés, abertos
24 horas. Cerca de 107 milhões
de chineses dizem ter um blog
ou um espaço pessoal.
A música on-line lidera suas
ocupações preferidas (84,5%
das pessoas questionadas), seguida pelas notícias (81,5%),
mensagens instantâneas
(77,2%) e vídeos on-line (71%).
Mudando a mídia
Esse florescimento de canais
de expressão e de informação
abalou a situação política na
China: em um contexto em que
a mídia continua submetida à
censura das autoridades e as
pesquisas independentes são
proibidas, a internet é o barômetro de uma opinião pública
às vezes embrutecida, que não
tem voz sobre o assunto.
A grande reatividade dos internautas catalisa mudanças na
imprensa, que não pode ignorar os debates na rede.
"As reportagens de um cidadão blogueiro como Zola [pseudônimo] fizeram as autoridades compreenderem que era
ilusório impor um blecaute de
informação na era dos blogs. O
regime tornou-se, portanto,
mais sutil em sua abordagem.
Autorizou maior cobertura da
mídia durante eventos como os
levantes de Wengan [na Província de Guizhou, em junho], o
que acabou por enfraquecer a
influência dos blogs", avalia Rebecca MacKinnon, professora
de novas mídias no Centro de
Jornalismo da Universidade de
Hong Kong.
Para manter o controle diante da formidável expansão da
internet no país, Pequim empregou um arsenal legislativo,
tecnológico e humano: é o caso
da ciberpolícia ou, ainda, dos
"comentaristas de internet",
pagos pelo Partido Comunista.
A "grande muralha virtual"
bloqueia assim o acesso a sites
locais ou estrangeiros considerados delicados.
A concessão pelas autoridades de licenças aos grandes atores da web (portais, vídeos on-line, comunidades) permite obter a fidelidade destes últimos.
Assim, no final de junho a administração tutelar do audiovisual chinês concedeu licenças
para 247 sites de vídeos chineses, mas... não aos três maiores
(Youku, Tudou e 56), nos quais
os internautas tendiam a colocar na rede filmes de incidentes
perturbadores, às vezes captados por telefones celulares.
Um deles, 56.com, esteve
inacessível mais de duas semanas antes de voltar a funcionar,
provocando calafrios nos fundos americanos e japoneses
que investiram milhões de dólares nele. Desde então, os três
"YouTube" chineses compreenderam a lição.
Este texto foi publicado no "Le Monde".
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves.
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