São Paulo, domingo, 03 de outubro de 2004

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CRÍTICA/POESIA

por Silviano Santiago

Charmes
de Paul Valéry Se nos anos 1950 traduziram-se Ezra Pound, e.e. cummings e Mallarmé; se, nos anos 1980, Elizabeth Bishop e Emily Dickinson, nesta década em que a poesia brasileira passa por uma fase neoclássica não seria esclarecedor ir além do "Cemitério Marinho" e traduzir todo o livro que Valéry publicou em plena efervescência dadá e às vésperas do surrealismo? Ao tradutor aconselha-se não deixar de lado os comentários sobre cada poema, feitos pelo filósofo Alain.

L'Aperto
[O Aberto], de Giorgio Agamben Desde a leitura de Holderlin por Heidegger, não tínhamos um exemplo tão notável de exegese filosófica do saber poético. A partir da oitava "Elegia de Duíno", de Rainer Maria Rilke, citada no título do livro e apenas en passant no texto, Agamben investe contra a máquina antropológica de Charles Darwin, seus discípulos e seguidores, para retornar à questão das origens do homem. Para tal tarefa, vale-se da leitura que Alexandre Kojève fez de Hegel sobre o fim da história, dos primeiros e póstumos escritos de Martin Heidegger (em particular sobre o tédio) e dos esotéricos apocalípticos, apropriados desde 1930 por Georges Bataille.

Roll over Beethoven - The Return of Cultural Strife
[Dá Licença, Beethoven - O Retorno à Batalha Cultural], de Stanley Aronowitz No momento em que os pseudoproprietários dos estudos culturais avançam sobre terreno que desconhecem, seria estratégico abandonar por algum tempo as ruminações teóricas. Mais uma intervenção nos debates do que um relato histórico neutro, o livro de Aronowitz enumera e passa em revista, didática e exaustivamente, as "batalhas" enfrentadas pelos intelectuais jovens e politizados britânicos e norte-americanos, que estão na gênese e na continuidade dos estudos culturais. Lê-lo não deixa de ser um refresco para compreender melhor os últimos brasis, das Diretas-Já até Lula, e um convite à honestidade dos nossos críticos.

Derrida & The Political
[Derrida e o Político], de Richard Beardsworth Na sua recente conferência feita no Rio de Janeiro, Derrida adentrou-se com Hegel e muita galhardia pela análise da autobiografia de Nelson Mandela, pelas questões candentes em torno do fim do apartheid sul-africano, não deixando de citar sua visita ao Chile de Allende. A explicitação de temas propriamente políticos convida os admiradores do filósofo francês a reler seus velhos escritos, onde a desconstrução já flertava com a política, só que em filigrana e surdina. O livro de Beardsworth pode ser um bom guia para entrar pela "aporia" derridiana.

Accident
[Acidente], de Christa Wolf Belíssima reflexão sobre a técnica na pós-modernidade. Numa pequena cidade da Alemanha, uma mulher, graças ao rádio, decodifica o significado das nuvens negras e destruidoras que aparecem no horizonte, sopradas da usina atômica de Chernobyl, e, presa ao telefone, recebe finalmente a notícia de que, graças à aparelhagem médica de última geração, a vida do irmão tinha sido salva em Berlim.
Silviano Santiago é escritor, poeta e crítico, autor de, entre outros, "O Falso Mentiroso" e "Uma Literatura nos Trópicos" (Rocco)

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