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São Paulo, domingo, 04 de maio de 2003

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Os terríveis Jonathans

Angel Diaz - 22.abr.2002/France Presse
O escritor norte-americano Jonathan Franzen, autor do romance "As Correções", que está saindo no Brasil


JONATHAN FRANZEN, COM "AS CORREÇÕES", QUE SERÁ PUBLICADO NESTE MÊS NO BRASIL, E JONATHAN SAFRAN FOER, COM "TUDO ESTÁ ILUMINADO", PREVISTO PARA SAIR EM 2004, APONTAM CAMINHOS QUASE OPOSTOS PARA A FICÇÃO NORTE-AMERICANA CONTEMPORÂNEA

Marcos Flamínio Peres
Editor-adjunto do Mais!

De um lado, um tratamento ácido da sociedade norte-americana, esmiuçando suas feridas em uma narrativa de corte clássico cuja finalidade é também "entreter o leitor"; de outro, a desmontagem satírica e inclemente do próprio romance, fazendo deste gênero um divertido e inteligente mosaico linguístico.
Previstos para sair no Brasil, "As Correções" (2001) e "Tudo Está Iluminado" (2002) amealharam um sucesso notável de público e crítica desde que foram publicados nos EUA e conduziram Jonathan Franzen e Jonathan Safran Foer, respectivamente, ao olimpo da ficção norte-americana recente.
Franzen já gozava de algum prestígio no meio acadêmico, mas a unanimidade veio apenas com esse seu terceiro romance, que deve sair no Brasil neste mês, publicado pela Companhia das Letras. Sua tenacidade em desvendar o lado desarticulado dos valores mais prezados da sociedade americana de certa forma encontra sua correspondência na obra de cineastas como David Lynch.
Por outro lado, sua estratégia narrativa é tachada por vezes de conservadora, a que Franzen rebate dizendo que a literatura pós-moderna está "apenas repetindo verdadeiros simplismos um atrás do outro, disfarçados de jogos formais supostamente de grande interesse intelectual". Para Franzen, a literatura tem a obrigação de preservar o leitor desse "aborrecimento mortal".
Em 2002, na coletânea de ensaios "How to Be Alone" (Como Estar Só, ed. Farrar, Straus & Giroux), o escritor já havia refletido sobre o romance contemporâneo nos EUA. O tema também é discutido por um importante admirador de Franzen, Tom Wolfe, autor do controvertido "Um Homem por Inteiro".
Já Safran Foer injeta uma poderosa veia satírica em um gênero por natureza mutável. Formalmente mais arrojado, "Tudo Está Iluminado" -que deve sair no Brasil em 2004 pela ed. Rocco- lida ao mesmo tempo com o gênero autobiográfico, o realismo mágico e o romance epistolar, conferindo à língua inglesa uma plasticidade tamanha que parte da crítica o tem aproximado de "A Laranja Mecânica" (1962), de Anthony Burgess.
Jonathan Lethem, homônimo menos conhecido dos outros dois, também faz parte dessa nova geração. Autor de "Brooklyn sem Pai nem Mãe" (Cia. das Letras), Lethem faz avançar a narrativa policial aos domínios da ficção científica. O já influente Dave Eggers e vários outros novos escritores americanos (leia quadros nas págs. 7, 8 e 9) também buscam, cada um a seu modo, reviver a tradição legítima de fazer a própria tradição em pedaços.

Onde encomendar
Livros em inglês podem ser encomendados, em SP, na livraria Cultura (0/xx/11/ 3170-4033) e, no RJ, na livraria Marcabru (tel. 0/xx/ 21/2294-5994)


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