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ADORNO PARA MANN
O filósofo por ele mesmo
5 de julho de 1948
Caro e prezado sr. dr. Mann,
Terei prazer em lhe enviar alguns dados a meu respeito.
Nasci em 1903, em Frankfurt. Meu pai
era um judeu alemão; minha mãe, também cantora, é filha de um oficial francês
de origem corso-genovesa e de uma cantora alemã. Cresci numa atmosfera dominada por interesses artísticos e teóricos (inclusive políticos).
Estudei filosofia e música. Em vez de
me decidir por uma, sempre tive a impressão de que perseguia a mesma coisa
em ambas. Em 1924, doutorei-me com
um livro sobre Kierkegaard e ensinei filosofia em Frankfurt até 1933, quando fui
expulso pelos nazistas. Deixei a Alemanha em 1934, trabalhei primeiramente
na Universidade de Oxford e acompanhei o Instituto de Pesquisa Social rumo
a Nova York. Moro desde 1941 em Los
Angeles.
Minha relação com o Instituto e minha
amizade com Horkheimer remontam a
meus anos de estudante; ambas são indissociáveis de meu pendor dialético e de
minhas tendências filosófico-sociais. Os
marcos mais essenciais de minha ligação
com Horkheimer são a "Dialética do Esclarecimento", que publiquei com ele, e o
volume em memória a Walter Benjamin.
Meus estudos musicais voltaram-se
para piano e composição, primeiro com
Bernhard Sekles e Eduard Steuermann,
em Viena. A amizade com estes últimos e
com Rudolf Kolisch e Anton Webern foi
artisticamente decisiva para mim. Entre
1928 e 1931, fui redator da revista "Anbruch", de Viena, em prol da música moderna mais radical.
A influência cruzada do musical e do
sociofilosófico deixou sua marca em um
livro sobre Richard Wagner e em numerosos artigos na "Revista de Pesquisa Social", publicados em alemão e em inglês.
O livro "Filosofia da Nova Música", que
deve ser publicado em breve na Alemanha, representa um resultado provisório
desses trabalhos. Sua primeira parte, escrita já em 1941, tem por objeto a obra de
Schoenberg e sua escola de composição
dodecafônica. Ele figura ali como o
maior compositor vivo, ao mesmo tempo em que se aponta como o necessário
esclarecimento construtivo da música,
por razões objetivas que escapam ao
compositor, ameaça recair no obscuro e
no mitológico. A segunda parte, só agora
concluída, trata de Stravinski e explicita a
impossibilidade de uma restauração
musical, ligada às tendências regressivas
do capitalismo.
Entre meus trabalhos não-musicais
dos últimos tempos, permita-me mencionar um livro de aforismos, "Minima
Moralia".
Talvez não seja imodesto demais pedir-lhe que ressalte antes meu empenho
intelectual e imaginativo com a obra e a
estética de Leverkühn do que o meramente informativo.
Mal posso esperar para ver a portinhola para a eternidade que o seu romance
abrirá para mim. Não preciso lhe dizer o
que significa para mim o seu reconhecimento de meus esforços excêntricos,
bem como a sua intenção de trazê-los à
luz.
Com admiração cordial, seu
Teddie Adorno
Esta carta e a da página anterior foram traduzidas
por Samuel Titan Jr.
Os trechos das cartas publicados nesta edição foram extraídos de "Briefwechsel - 1943-1955".
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