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Para psiquiatra, ecstasy pode provocar danos psíquicos
free-lance para a Folha
Na entrevista abaixo, o psiquiatra Dartiu Xavier da
Silveira, chefe do Programa de Orientação e Atenção ao
Dependente da Universidade Federal de São Paulo, explica
os efeitos do ecstasy.
Quais são os malefícios e benefícios do ecstasy?
Os efeitos positivos são as sensações de descontração,
de proximidade do outro. O uso esporádico não teria
problema, em princípio, não fossem as reações físicas
de desidratação e hiperatividade, que podem levar à
morte súbita mesmo o usuário ocasional. É como se o
organismo passasse a funcionar em velocidade acelerada, daí a desidratação intensa de que o indivíduo não se
dá conta por não sentir sede. Do ponto de vista dos efeitos psíquicos, no usuário ocasional (frequência menor
do que uma vez por semana), eles não estão presentes.
Quanto mais aumenta a frequência de uso, surgem os
efeitos negativos que vão de um quadro de ansiedade
ou pânico à depressão; algumas pessoas têm paranóia,
insônia.
O ecstasy causa dependência química?
É extremamente rara, a maioria dos autores considera
que não existe dependência.
Ele é equivalente a quais outras drogas?
Do ponto de vista farmacológico, é uma anfetamina,
mas que não apresenta efeitos típicos de anfetamina; do
ponto de vista dos efeitos, parece um alucinógeno, como se fosse um alucinógeno brando.
Ele pode ser utilizado para fins terapêuticos?
O ecstasy é uma droga desenvolvida por um laboratório
alemão (Merck) no início do século 20 para tratar de
transtornos alimentares. Depois foi ressuscitado na década de 50 pelos EUA como uma possível arma de guerra. Supunham que um prisioneiro a quem se desse ecstasy diria a verdade, entregaria todos os segredos. Nenhuma dessas finalidades foi obtida, claro. Ele começou a entrar no padrão de uso de agora nos anos 70, nos
"clubs" londrinos.
O uso de ecstasy leva ao consumo de drogas pesadas?
Não. O que existe é uma certa associação com o álcool,
que pode complicar os efeitos de desidratação e hipermetabolismo, então a rigor uma pessoa que usa ecstasy, para se proteger, não deveria consumir álcool, deveria tomar bastante água e não entrar em ambientes muito
quentes, fechados. Aliás todas as boates londrinas agora
têm de ter ventilação e água gratuita, senão são fechadas. O governo fez isso por causa do ecstasy.
O senhor conhece casos de uso compartilhado de ecstasy ou
outra droga entre pais e filhos?
Infelizmente isso é uma coisa que eu tenho visto, não é
algo específico do ecstasy, é mais frequente com outras
drogas (maconha, principalmente) e é uma coisa muito
delicada. Eu tenho pacientes que me dizem: "Eu uso
drogas, mas agora meu filho está usando e eu não sei o
que fazer". É um fenômeno que está aumentando, com
grande incidência em famílias disfuncionais.
(Juliana Monachesi)
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