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MANUELA CARNEIRO DA CUNHA
[EUA]
1. Eu era professora titular do departamento de antropologia da USP.
2. O convite do departamento de antropologia da
Universidade de Chicago.
3. Não.
4. Só posso falar da Universidade de Chicago, onde
trabalho. Essa é uma das mais renomadas universidades de pesquisa, onde o ensino se concentra
principalmente no doutorado. Não é certamente
representativa da grande maioria das universidades do país.
O ambiente intelectual aqui é especialmente estimulante, com uma oferta intensa de conferências, debates e grupos de estudo. O problema é ter
tempo para aproveitar plenamente essa oferta. Os
alunos são de excelente nível, simplesmente porque, a demanda sendo muito maior, uma boa
universidade pode escolhê-los a dedo. O salário e
a consideração que se tem por um professor são
sem dúvida mais altos do que no Brasil. Também
se trabalha muito mais, mas as condições são
consideravelmente melhores. Dispõe-se de excelentes bibliotecas, de assistentes de pesquisa, de
fundos para participar de Congressos e reuniões e
até para iniciar novos projetos e preparar pedidos
de auxílio para pesquisa.
5. O Brasil tem excelente antropologia, tanto assim
que recentemente Lévi-Strauss declarou à revista
francesa "Nouvel Observateur" que era no Brasil
que se fazia atualmente a melhor etnologia. Nos
Estados Unidos, muitos antropólogos, nos últimos 10 a 15 anos, se concentraram na busca de
novas maneiras de escrever sobre velhos assuntos
e em estudar assuntos "não (anteriormente) convencionais", como por exemplo comunidades
científicas -tais como físicos ou biólogos-ou
comunidades financeiras. Foi em grande parte
uma época de transição e de crise, que talvez já se
tenha esgotado e com a qual, confesso, não tenho
grandes afinidades. Chicago e Michigan, entre alguns outros grandes centros, souberam guardar
suas distâncias em relação a esse movimento.
Aqui, me sinto participante de uma antropologia
histórica e aprendiz, na medida do possível, de
uma antropologia linguística, ambas escolas muito importantes nesta universidade. Mas, sobretudo, prezo a conversa que se trava na Universidade
de Chicago: grandes expoentes das várias correntes dentro da antropologia têm sabido manter um
diálogo muito fecundo e ao mesmo tempo dar aos
alunos uma sólida formação clássica.
6. Nunca. Mas aprender os usos e costumes acadêmicos aqui, levando em conta que minha formação se deu na França e no Brasil, tem sido um
aprendizado longo e ainda inconcluso.
7. O Brasil é meu país: é no Brasil que eu posso fazer
alguma diferença e portanto quero voltar. Nasci
em Portugal, filha de judeus húngaros que tiveram a sabedoria de ir para Portugal pouco antes
da Segunda Guerra Mundial. Guardo, só Deus sabe por que, um sotaque leve, mas inconfundivelmente português. No entanto, como disse, o Brasil
é meu país, aquele com o qual me identifico, onde
cresci, onde estão meus filhos, minhas irmãs e até,
a maior parte do tempo, meu marido. Orgulho-me de ter contribuído um pouco para o capítulo
dos direitos dos índios na Constituição de 1988.
Mesmo quando estou assessorando organismos
internacionais, faço-o do ponto de vista dos nossos interesses.
Dos Estados Unidos, não deixo de acompanhar
o que está acontecendo no Brasil, onde passo de
quatro a cinco meses por ano e onde continuo
participando de iniciativas que me parecem importantes. No momento, por exemplo, estou participando de estudos para uma nova legislação sobre conhecimentos de populações tradicionais associados à biodiversidade. Também não deixei de
publicar sobre questões brasileiras para um público brasileiro: há poucos meses saiu um volume
que organizei juntamente com Mauro Almeida,
"A Enciclopédia da Floresta", que trata dos conhecimentos de populações de índios e seringueiros do alto rio Juruá.
Vir para os Estados Unidos, há quase nove anos,
foi um desafio e uma mudança de vida que ampliou meus horizontes. Por mais que eu esteja satisfeita na Universidade de Chicago, acho que daqui a pouco vai me dar aquela coceirinha de arriscar uma nova experiência, talvez até um novo tipo
de atividade. Gosto de muitas coisas e gosto de riscos. Uma vida só é muito pouco, precisaríamos ter
muitas mais.
O Brasil é meu país; é no Brasil que posso fazer alguma diferença, portanto quero voltar
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Antropóloga, 59
Universidade de Chicago
Deixou o Brasil em: 1994
Principais obras: "Enciclopédia da Floresta"
(com Mauro de Almeida) e "História dos Índios no Brasil" (ambos pela Cia. das Letras)
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