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LIDIA SANTOS
[EUA]
1. Eu era professora de literatura hispano-americana na Universidade Federal Fluminense, em Niterói (RJ). Quando deixei o Brasil, em agosto
de 1995, estava montando, com outros colegas,
um programa de pós-graduação em América
Latina, nos moldes do Prolam (Programa de
Pós-Graduação em Integração da América Latina), que eu tinha visto nascer na USP, onde terminei meu doutorado, em 1993. Também
integrava a diretoria da Associação Brasileira
de Literatura Comparada (biênio 94-96). Era
ainda escritora, com um prêmio nacional (o
Cora Coralina, em 1987) e um internacional (o
Guimarães Rosa, em 1992), oferecido pela Radio France Internationale. Em 1994 tinha publicado "Os Ossos da Esperança", meu segundo livro de contos.
2. Vim para os EUA porque fui convidada para
lecionar em Yale. O convite, para um cargo de
"conferencista", acabou se transformando
num contrato de professora-assistente que durou até 2002, quando fui promovida a professora associada de literaturas brasileira e hispano-americana.
3. Claro que, num dos centros da vida intelectual
dos EUA, como Yale, a visão do Brasil é menos
estereotipada. Ainda assim, colegas de campos não
relacionados à América Latina tendem a perguntar-me sobre a devastação da floresta amazônica, a miséria ou a violência nas grandes cidades brasileiras. Em
geral, respondo que esses problemas foram gerados
aqui mesmo, no hemisfério Norte.
4. Num centro de excelência acadêmica como Yale, as
condições de trabalho são infinitamente diferentes
das que qualquer universidade brasileira possa oferecer. Há computadores e internet grátis para todos.
O professor pode pedir um volume que não exista
nos catálogos, o que é raro em qualquer outra biblioteca do país. Mas nem sempre essa facilidade se traduz em qualidade. Comparando as condições de trabalho e o acesso à informação nos dois países, posso
dizer que, proporcionalmente, encontrei mais colegas e alunos brilhantes no Brasil do que nos EUA.
Quanto aos salários, a academia norte-americana
não é tão generosa quanto se pensa. Nas universidades de primeira linha, sempre particulares, cada professor negocia seu salário individualmente e nunca
se sabe quanto ganha um colega. Essa é a principal
diferença em relação às melhores universidades brasileiras, que, sendo estatais, têm um patamar de salários de domínio público. Finalmente, o privilégio das
glórias individuais gera poucos altos salários, pagos
às "estrelas", cabendo à massa do professorado uma
realidade salarial semelhante à brasileira.
5. No caso dos estudos brasileiros, não há muita diferença. O "brasilianista" já não pode prescindir
da pesquisa brasileira, graças ao volume e à qualidade das publicações feitas no Brasil. Além disso,
a matéria-prima está aqui. O mesmo não acontece no caso hispano-americano. A grande quantidade de professores hispano-americanos -e até
de escritores- radicados nos EUA faz com que
as pesquisas sobre a América hispânica feitas no
hemisfério Norte ganhem mais visibilidade que
as nacionais.
6. Não, de nenhuma maneira. Sou branca e vivo na
privilegiada bolha de um campus universitário
caracterizado por uma grande diversidade étnica
e cultural.
7. Sim. Em primeiro lugar, porque morro de saudade. Em segundo lugar, porque minha obra de ficção se alimenta do Brasil. É muito difícil inventar
histórias sobre um país quando não se vive nele.
Remedio a saudade indo ao Brasil a cada ano, às
vezes, como no ano passado, duas vezes por ano.
Um dia acabo voltando de vez.
Comparando condições de trabalho e acesso à informação, encontrei mais
colegas e alunos brilhantes no Brasil do que nos EUA
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Professora de literaturas brasileira e hispano-americana, 54
Universidade Yale
Deixou o Brasil em: 1995
Principais obras: "Kitsch Tropical" (Vervuert/Iberoamericana) e co-autora de
"Passions du Passé" (L'Harmattan)
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