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LEOPOLDO BERNUCCI
[EUA]
1. Deixei o Brasil depois de trabalhar como professor de inglês e administrador geral de uma firma importadora de
produtos químicos.
2. Depois de me formar em letras pela USP em 1976, trabalhei
dois anos mais no setor administrativo, sem perder de vista a perspectiva de poder estudar literatura hispano-americana nos Estados Unidos. Solicitei a minha admissão à
Universidade de Michigan para o programa de mestrado.
A razão era simples: eu queria estudar com um professor
chileno, Cedomil Goic, radicado nos Estados Unidos. Foi
uma das melhores escolhas que eu já fiz na minha vida.
3. Não. Hoje, a imagem que se tem do Brasil aqui é muito diferente daquela do Carnaval e do futebol. Obviamente,
precisamos setorizar a opinião. O povo americano em geral ainda vê o país pela perspectiva exótica. No setor acadêmico, que é o meu, o Brasil atual é respeitado e, justamente
agora, durante o governo Lula, o país tem sido reverenciado e apreciado. Isso começou no governo do FHC e, se tudo continuar assim como estamos observando, o respeito
será ainda maior pelo nosso país.
4. As diferenças são radicais quanto a salários. O salário aqui
é negociável durante a contratação de um professor. Os aumentos salariais anuais são dados tendo como princípio
básico o mérito (produção acadêmica na área de pesquisa,
ensino e serviço). Predomina ainda o mote "publish or perish". As condições de trabalho são quase idênticas, exceto
pelo acesso às grandes bibliotecas. A Biblioteca Nacional
do Rio é uma jóia única. Há outras menores muito boas
também, mas não tão completas em qualidade e quantidade como as das universidades norte-americanas.
5. Na área de literatura brasileira, a diferença é muito grande.
Há muito poucos pesquisadores aqui que se dedicam a esse campo quando comparamos, por exemplo, as áreas de
literatura com as de ciências sociais, história ou sociologia.
Proporcionalmente ao grande número de professores hispânicos em literatura, há um número muito pequeno de
professores universitários brasileiros lecionando nos Estados Unidos. Uma de minhas funções como "chairman" recém-contratado na Universidade do Texas é reverter esse
processo.
6. Não. Ao contrário, sempre fui tratado com muita dignidade e respeito. E sempre gostei de fazer questão de dizer que
"sou brasileiro". Sinto-me perfeitamente adaptado ao ambiente norte-americano e também, é claro, ao brasileiro.
Meus três filhos emblematizam essa duplicidade: são cidadãos brasileiros e americanos; o que quer dizer que, muito
em breve, serão cidadãos do mundo.
7. Sempre estou voltando ao Brasil. Viajo ao meu país pelo
menos duas vezes ao ano para desenvolver pesquisas, dar
conferências e rever familiares e amigos. Morar definitivamente no Brasil? Só depois de aposentado. Duas razões: (1)
tenho como missão profissional lutar para melhorar a visibilidade e qualidade do ensino do português e da literatura
brasileira no meu departamento da Universidade do Texas, em Austin; (2) os meus filhos ainda dependem de mim
e portanto, daqui a 15 anos, estarei mais livre para retornar
e viver o que me restar da vida nessa boa terra.
Os aumentos salariais anuais
são dados tendo
como princípio básico o mérito; predomina ainda
o mote "publique
ou pereça"
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Professor de literatura brasileira, 50
Universidade do Texas
Deixou o Brasil em: 1978
Principais obras: Edição comentada de
"Os Sertões" (Ateliê Editorial) e "A Imitação dos Sentidos" (Edusp)
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