São Paulo, domingo, 19 de outubro de 2003 |
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+ livros "Coronel, Coronéis" e "Entre Deus e a Vasilha", escritos respectivamente nos anos 60 e 80, discutem a questão agrária no interior do Nordeste e de São Paulo Terras e conflitos à vista
Marco Antonio Villa
A primeira edição de "Coronel,
Coronéis" é de 1965. A pesquisa
foi realizada em 1963, em Pernambuco, por Marcos Vinicios
Vilaça e Roberto Cavalcanti de Albuquerque, numa época de grande tensão
política. Estudaram as áreas de influência e a atuação política de quatro coronéis, dois do agreste (Chico Heráclito e
José Abílio) e dois do sertão (Chico Romão e Veremundo Soares). Os quatro
coronéis notabilizaram-se quando ainda
não estava presente plenamente o Estado no sertão.
Durante anos foram a maior autoridade nas suas cidades, exercendo o poder
de fato: designando delegados, juízes, resolvendo pendências familiares e ampliando seus negócios. O livro teve edições em espanhol, francês, italiano e inglês, o que revela sua importância e originalidade, pois não é comum no Brasil este tipo de estudo, diferentemente do que
encontramos, por exemplo, no México.
A quarta edição revista e ampliada foi
acrescida de um prefácio otimista de Alberto da Costa e Silva, presidente da Academia Brasileira de Letras, que considerou o relato "páginas de história" e que o
livro (em 1965) "apontava para o declínio dos coronéis sertanejos". O próprio
presidente da ABL poderá constatar que
os coronéis, infelizmente, acabaram permanecendo sob novas vestes, até com o
fardão da ABL.
Na introdução acrescida a esta edição,
o leitor poderá ficar frustrado, pois, em
vez de um balanço desses 40 anos, entre a
realização da pesquisa e os dias atuais, os
autores optaram por um discutível painel histórico, pobre em referências. Teriam, certamente, de tratar dos "novos
coronéis", que substituíram os toscos
antecessores do sertão: os donos de canais de televisão, emissoras de rádio e
jornais. Seria mexer em um vespeiro,
pois os coronéis da modernidade têm
muito mais poder que os analisados no
livro, que restringiam sua influência ao
município em que moravam: em um
país marcado pela "ideologia do favor",
como já disse Roberto Schwarz, é melhor
deixar de lado qualquer balanço crítico.
Mas o que causa profunda estranheza
nesta introdução é o momento em que
os autores vão finalmente tratar do contemporâneo. É de imaginar que ficaram
embaraçados, daí as frases desconexas.
Marco Antonio Villa é professor de história na Universidade Federal de São Carlos (SP) e organizador de "Canudos, História em Versos" (Imprensa Oficial de SP/Edufscar/ed. Hedra). Coronel, Coronéis 206 págs., R$ 29,00 de Marcos Vinicios Vilaça e Roberto Cavalcanti de Albuquerque. Ed. Bertrand Brasil (r. Argentina, 171, 1º andar, CEP 20921-380, RJ, tel. 0/xx/11/ 2585-2070). Entre Deus e a Vasilha 96 págs., R$ 19,00 de Antonio Callado. Nova Fronteira (r. Bambina, 25, CEP 22251-050, RJ, tel. 0/xx/ 21/ 2537-8770). Texto Anterior: + autores: O jogo de espelhos de Sartre e Jean Genet Próximo Texto: A batida rítmica primordial Índice |
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