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ADRIANO SCHWARTZ
O autor
Se a pergunta propusesse uma
relação comparativa mais
mensurável (do tipo, qual o time
mais importante, Corinthians ou
Palmeiras?, com a óbvia
resposta sendo o primeiro),
seria fácil.
Mas é complicado estabelecer
uma diferença de valor tão
definitiva para autores desse
nível. Se for para arrumar um
critério e entrar na brincadeira,
em vez de anular o voto ou
decretar o inevitável empate,
fico com Guimarães Rosa
-ainda que nos últimos tempos
venha estudando fascinado os
contos do criador de Bentinho e
Brás Cubas.
Faço a escolha porque tenho a
impressão de que talvez Rosa
saia prejudicado de um
confronto assim muito por conta
de seus seguidores, que diluíram
a sua obra de um jeito tão
pesado, com uma mistura
horrenda de regionalismo,
misticismo e pieguice, que
terminaram por arranhá-la.
De um problema dessa natureza
Machado escapa quase ileso, já
que ele tem pouco a ver com o
"realismo" nosso de cada dia.
A obra
"Grande Sertão: Veredas". A
razão? São várias, mas
menciono apenas uma, a
existência de uma profusão de
passagens como a reproduzida a
seguir ao longo de mais de 500
páginas do romance:
"Ele tinha que vir, se existisse.
Naquela hora, existia. Tinha de
vir, demorão ou jajão. Mas, em
que formas? Chão de
encruzilhada é posse dele,
espojeiro de bestas na poeira
rolarem. De repente, com um
catrapuz de sinal, ou
momenteiro com o silêncio das
astúcias, ele podia se surgir para
mim. Feito o Bode-Preto? O
Morcegão? O Xu?"
ADRIANO SCHWARTZ é professor de literatura
na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da
USP, autor de "O Abismo Invertido" (ed. Globo).
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