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NELSON DE OLIVEIRA
O autor
Empate espetacular.
Os dois escritores -o mestre do
século 19 e o do século 20, o da
esfera urbana e o da esfera rural,
o do realismo racionalista e o do
realismo subjetivista-
cruzaram simultaneamente a
linha de chegada.
Mesmo antes da largada já era
grande a desconfiança, entre os
apostadores, de que daria
empate. Competiam duas
poderosas realidades ficcionais,
diferentes e complementares: a
da capital do Segundo Reinado,
cosmopolita e letrada, e a do
sertão da República, primitivo e
mítico.
Se dessa disputa também
tivessem participado Manuel
Bandeira, Carlos Drummond de
Andrade e Clarice Lispector, o
empate seria quíntuplo.
Esses autores são estrelas de
primeira grandeza e pertencem à
principal constelação de meu
cânone afetivo. Iluminam-se
reciprocamente, e o equilíbrio de
sua constelação só se mantém
estável porque nenhum deles é
capaz de exercer maior ou menor
força sobre os companheiros.
A obra
Confirmado o empate, da obra
dos dois escritores eu separo os
romances "Memórias Póstumas
de Brás Cubas" e "Grande
Sertão: Veredas". Machado
também escreveu peças de
teatro, contos, crônicas e
poemas, mas foi com os últimos
romances que se destacou na
cena literária.
Já Rosa, que também escreveu
contos e poemas, foi logo
reconhecido pelos primeiros
contos, todos longos, e o único
romance que escreveu só veio
coroar a obra. "Memórias
Póstumas" e "Grande Sertão"
renovaram de maneira
espantosa o gênero romanesco.
Da mesma forma que "A Paixão
Segundo GH" (se Clarice
estivesse no páreo).
A ironia, o cinismo e
principalmente a ousadia formal
do romance de Machado sempre
me inspiraram, como escritor. O
mesmo acontece com a
linguagem épica de Rosa, que em
seu romance está pelo menos
um grau mais sublime do que nos
contos.
NELSON DE OLIVEIRA é escritor, autor de "Algum Lugar em Parte Alguma" (ed. Record).
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