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ALCIDES VILLAÇA
O autor
Como a pergunta não esclarece
se o padrão de medida é a
extensão ou o volume de água,
fiquemos com esses dois rios
imensos. O emparelhamento
dos autores é útil porque
permite acentuar
contraposições que os fazem
ainda mais necessários.
Por exemplo: Machado de Assis
é um mestre no traçado nítido
das situações-limite, das
experiências agudas do
cotidiano pessoal e público.
Analisa nelas a construção das
justificativas que damos para
proteger um interesse
verdadeiro; mas a distinção
de valor entre a justificativa
e a verdade correrá por nossa
conta, porque ele as embaralha,
numa política de provocação
que pede resposta.
E Guimarães Rosa finca raízes
na construção de uma
experiência de linguagem
que se converte em experiência
do mundo, potenciada pelo mito
e pela poesia.
Nossos gestos seriam frutos
e projeções de uma ordem
simbólica, afetiva e ecumênica,
identificada como origem e
destino: dois extremos
de um caminho que nos cabe
atravessar.
Da terceira margem, entre
esses rios, olho para ambos
os lados.
A obra
De um lado está "Dom
Casmurro" -romance que é a
totalização da história pessoal e
da pessoa do narrador. O estilo,
auto-suficiente e auto-referido,
sabe produzir lacunas e
encaminhar o tema do engano,
ao qual o narrador se liga como
vítima, podendo ser também o
agente. De todo modo, o engano
subsiste, cabendo ao leitor
ajuizá-lo como fatalidade
universal, assimetria dos
desejos, malícia de classe ou
desilusão ressentida
-se não se dispuser a
enfrentar a complexa somatória
disso tudo.
Do outro lado está "Grande
Sertão: Veredas". Quando o
leitor vence o desafio de uma
reeducação da leitura, ingressa
numa linguagem que se faz
espetáculo para atender à ordem
de grandeza em que o narrador
projeta o mundo.
O relato, aqui, é totalização
ambiciosa, porque não renuncia
a nenhum gênero e não admite
fratura entre o vivido e o
imaginado. Eixo de unificação, o
sertão é matéria histórica
aberta, intrincada e rude, que o
sujeito deve viver para narrar,
narrar para se conhecer.
ALCIDES VILLAÇA é professor de literatura
brasileira na USP, autor de "Passos de Drummond" (ed. Cosac Naify).
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