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ISAIAS PESSOTTI
O autor
Como leigo em teoria literária,
mero leitor, parece haver um
tipo de romancista que constrói
o texto presumindo emoções de
quem lê; compõe a obra para o
leitor, ajustando a linguagem a
esse fim.
Outro tipo é o que se enamora
pela obra e a constrói pelo
prazer, todo seu, de criá-la; e
nesse caso é o leitor que se deve
ajustar à forma do texto. Eu
arriscaria incluir Machado de
Assis no primeiro tipo e
Guimarães Rosa, no segundo.
Na obra de Guimarães, o que me
fascina mais é o estro da
linguagem, engenhosa, rica e
que me obriga a admirar o autor,
a cada linha. Já a narrativa de
Machado é tão envolvente que,
do começo ao fim, esquece-se
quem a escreveu e se é seduzido
inteiramente pela trama. Não
consigo indicar qual dos dois é
melhor. Porém, visto que
"admira-se a Vieira, mas a
Bernardes admira-se e ama-se",
a Machado de Assis admiro e
amo.
A obra
Essa apreciação refere-se a
"Dom Casmurro", pela sedução
da narrativa, e a "Grande Sertão:
Veredas", pelo fascínio do estilo
e da linguagem.
ISAIAS PESSOTTI é escritor, ex-professor titular de psicologia na Faculdade de Medicina da
USP (Ribeirão Preto). É autor de "Aqueles Cães
Malditos de Arquelau" (ed. 34).
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