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WILLI BOLLE
O autor
Machado de Assis é o maior
escritor brasileiro do século 19,
assim como Guimarães Rosa é o
maior do século 20. Ora, o que se
ganharia se colocássemos um
deles no pedestal em detrimento
do outro?
Existe uma questão que
transcende a do "maior
escritor": é o projeto de
construção da literatura
brasileira. Isso é evidenciado por
uma feliz coincidência de datas:
no mesmo ano em que morreu
Machado, nasceu Rosa; um
passou para o outro o bastão
desse projeto coletivo.
Ele consiste em corresponder a
um desafio histórico e político-cultural, em que têm
importância também os
escritores chamados "menores":
apresentar a realidade do país da
forma mais verdadeira e mais
exata possível, através do
"medium" da linguagem.
Os escritores contribuem
decisivamente para isso na
medida em que vigiam o uso das
palavras e do discurso na
sociedade e colaboram para o
refinamento da língua que todos
nós usamos no dia-a-dia.
Podemos aprender essa arte
igualmente com ambos os
mestres: Machado de Assis e
Guimarães Rosa.
A obra
Não posso deixar de destacar
aqui a obra que me motivou a vir
para o Brasil, em 1966: "Grande
Sertão: Veredas".
Narrada para um interlocutor
urbano, é a história de vida do
jagunço Riobaldo e de sua paixão
por Diadorim: um romance de
formação da alma de um
indivíduo e um retrato do país. A
travessia do sertão é um
navegar dentro do desconhecido,
tentativa de decifrar a própria
vida: o amor, o medo, a coragem.
Por meio da posição social
ambígua do protagonista -filho
de uma pobre sertaneja e de um
latifundiário- e de seu perfil de
"jagunço letrado", o romancista
retrata uma nação dilacerada,
complementando os principais
ensaios de interpretação do
Brasil: desde o livro matricial de
Euclydes da Cunha até os
estudos de Gilberto Freyre,
Sérgio Buarque de Holanda, Caio
Prado.
A narração é a de um homem
atormentado pela culpa de ter
feito o pacto com o Diabo, com
que se coloca a questão do
sentido da vida e da opção entre
o mal e o bem -envolvendo
inclusive a linguagem, que se
revela como "luciférica".
WILLI BOLLE é professor de literatura na USP e
autor de "grandesertão.br - O Romance de Formação do Brasil" (Duas Cidades/editora 34).
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