São Paulo, domingo, 26 de maio de 2002 |
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Ugo Giorgetti
O gol mais emocionante da minha vida foi feito no
meio da rua Alfredo Pujol, em Santana, num domingo à tarde de 1959. Palmeiras e Santos disputavam a terceira partida da melhor de três do Campeonato Paulista daquele ano. Por alguma razão eu estava chegando em casa atrasado e o jogo já transcorria havia muito tempo. Virei a esquina da Voluntários da Pátria com a
Alfredo Pujol acompanhado da narração pelo rádio que vinha do Bar e Bilhares Brasil. Passando apressado ainda tive tempo de fazer um gesto para o balconista que em resposta ergueu preguiçosamente os dois indicadores. Um a um, compreendi. Aumentei minha corrida subindo a rua em direção de casa enquanto o barulho
da narração, ameaçador, ia ficando para trás. Aliás, menos audível ele ficava, mais ameaçador parecia. Exatamente no meio da rua, entre minha casa e o bar, um grito de longe, terrível, agonizante, interminável de gol paralisou a minha corrida. Sem identificar de quem era o gol, fiquei algum tempo varado pela dúvida: correr pra casa ou correr pro bar? A distância era a mesma. O locutor continuava aos berros, talvez descrevendo a tragédia de um gol do Santos. Desesperado, resolvi pela casa, onde haveria mais solidariedade em caso de tragédia. Venci os próximos cem metros em velocidade de Olimpíada. Ainda subindo os lances da escada, comecei a ouvir o rádio da minha própria casa. Cheguei perto, transido.
Romeiro, de falta. Palmeiras, dois a um. Foi o maior gol que eu já vi, ou melhor, já ouvi. Ugo Giorgetti é cineasta, diretor do longa-metragem "Boleiros - Era Uma Vez o Futebol" (1998), entre outros. Texto Anterior: Cristovão Tezza Próximo Texto: 82 a seleção recalcada Índice |
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