São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

GUSTAVO CERBASI

Aprendizado incipiente


Embora mais consciente, o consumidor brasileiro subestima a informação de qualidade à sua disposição

Se você busca orientações sobre investimentos, alternativas de crédito ou organização de suas finanças, basta folhear seu jornal ou revista favoritos ou navegar em um portal de variedades na internet, que encontrará. A educação financeira é tema presente e vem transformando o trabalho das instituições financeiras.
O consumidor brasileiro está mais consciente e seletivo em suas escolhas de consumo e de contratação de produtos financeiros, o que é nitidamente perceptível no aumento da qualidade dos produtos mais consumidos. O cheque especial já foi a modalidade de crédito mais utilizada, hoje substituído pelo empréstimo consignado, muito mais barato. O nível de contratação de planos de previdência nunca foi tão elevado, e o nível de adesão a planos com participação em ações é significativo mesmo durante crises.
Os consórcios, interessantes principalmente em épocas de juros altos, estão em seu auge. Crescem também de forma vertiginosa os mercados de fundos imobiliários, letras de crédito agrícola e imobiliário, negociações de minicontratos de ouro e fundos de índices.
A expansão das carteiras desses produtos só é possível à medida que a população enriquece e também busca informações e orientações profissionais sobre alternativas ao risco ou à baixa rentabilidade de produtos populares, como a caderneta de poupança.
Essa orientação é farta nos bancos, em corretoras de valores e de seguros, instituições que vêm investindo maciçamente em formação e certificação de seus profissionais.
Entretanto, apesar da evolução na oferta de orientação e produtos financeiros e na maturidade do investidor financeiro, ainda há um longo caminho a percorrer. Entre os investidores de fundos de investimento é difícil encontrar quem saiba detalhar, por exemplo, a política de investimentos de um fundo do qual seja cotista.
Entre os ainda poucos brasileiros que investem em ações (menos de 0,5% da população), predomina o comportamento especulativo, apostando na alta dos papéis em um prazo não muito longo, ou apavorando-se diante de turbulências de curtíssimo prazo. Esse comportamento é incompatível com o acesso esporádico ao homebroker, aos extratos ou às recomendações das corretoras, típicos do pequeno investidor brasileiro.
Especulação é para quem atua profissional e diariamente no mercado, não para amadores.
Aqueles com pouca experiência poderiam contornar a ansiedade e a falta de agilidade com carteiras compostas por empresas de comportamento previsível e pagamento de dividendos em vez de apostar perigosamente contra profissionais, em busca de ganhos maiores.
Na semana passada, aconteceu em São Paulo a Expo Money, maior evento de educação financeira do país. Os visitantes, brindados com a oferta de conteúdo gratuito proporcionada por especialistas de renome, em grande parte se mostravam interessados em coletar dicas pontuais de investimento.
Eventos similares que acontecem nos Estados Unidos não se prestam à orientação gratuita, mas sim à venda de relatórios, prognósticos e de análises, por parte de consultores independentes -nem sempre com credibilidade comprovada.
Mesmo assim, eventos desse tipo movimentam centenas de milhares de dólares.
De certa forma, o consumidor brasileiro esnoba a informação disponível e gratuita, ou não tem conhecimento para aproveitar as oportunidades que ela traz. Lamenta quando as prestações de seu financiamento aumentam com a inflação, mesmo tendo assinado um contrato prevendo isso. Reclama da demora em ser contemplado em um consórcio, mesmo sendo o mecanismo de contemplação a mais básica das regras do produto.
É um comportamento ingênuo, que conduz a perdas de dinheiro e de oportunidades. Como mudar essa realidade? Envolvendo-nos mais com as cartilhas gratuitas dos produtos antes de contratá-los, e mobilizando-nos em busca de informação de base, que nos permita questionar e duvidar de recomendações, em vez de nos seduzirmos por elas. Dedique mais tempo às suas escolhas, que elas lhe custarão menos.

GUSTAVO CERBASI é autor de "Casais Inteligentes Enriquecem Juntos" (ed. Gente) e "Investimentos Inteligentes" (Thomas Nelson).
www.maisdinheiro.com.br

@gcerbasi

AMANHÃ EM MERCADO:
Benjamin Steinbruch


Texto Anterior: FOLHA.com
Próximo Texto: Empresa deixa empregado escolher laptop
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.