São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros ANÁLISE AGRONEGÓCIO Maior desafio é produzir mais alimentos com o menor custo JOSÉ VICENTE FERRAZ ESPECIAL PARA A FOLHA Com a alta no preço dos alimentos e a perspectiva de sua manutenção em níveis elevados nos próximos anos, o debate sobre as condições de oferta de alimentos tem se intensificado e muitas vezes tem sido incorretamente focado na impossibilidade de seu aumento. A dificuldade de aumentar a oferta de alimentos e de commodities agropecuárias, devido ao esgotamento da disponibilidade de recursos naturais, notadamente terras, é equivocada à medida que a tecnologia disponível permite a produção em condições muito desfavoráveis. Teoricamente, seria possível ampliar a oferta de commodities agropecuárias para níveis mais que suficientes para atender a demanda potencial, inclusive prevendo os aumentos decorrentes do crescimento populacional e do consumo per capita. O problema não está na viabilidade de produzir, mas em que condições, pois é preciso que ela ocorra de modo que até mesmo as pessoas mais pobres possam ter acesso aos produtos. Tomemos como exemplo uma tecnologia conhecida e com efeitos comprovados na produtividade, como é a irrigação. No caso da carne, é possível irrigar pastagens ou culturas de componentes da ração dos animais, aumentando muito a produção final por unidade de área. Entretanto, o custo final do produto pode também ser fortemente aumentado se a tecnologia adotada depender da existência de eventuais condições desfavoráveis, como as de acesso a água, a energia, entre outras. O efeito do aumento dos custos de produção nos preços finais se dá de forma indireta, pois o consumidor, no ato da compra, não se importa e nem está informado sobre os custos de produção. Ocorre, porém, que, havendo aumento de custos de produção, os preços pagos pelo consumidor também sobem, ou a rentabilidade do produtor se estreita. Nesse caso, há redução da produção e, em seguida, aumento de preços. Na prática, vai se estabelecer um novo equilíbrio de mercado, em que os preços permanecerão em níveis que permitirão rentabilidade aos produtores que os leve a um nível de produção que ratifique os preços finais. O problema é que o equilíbrio, dada a existência de parcela considerável da população de muito baixa renda, ocorre em níveis em que ela é excluída do consumo. O desafio é, portanto, buscar ganhos de produtividade que permitam efetivamente fazer mais com menos --e não apenas produzir mais. Tecnologias como, por exemplo, o uso de material genético de qualidade superior, na quase totalidade dos casos, permitem aumento de produção que compensa largamente eventuais aumentos de custo e, nesse caso, tende a baratear o produto para os consumidores. Nesse contexto, fica claro que a restrição da disponibilidade de recursos naturais tem a sua importância diretamente ligada ao fato de que normalmente pode, em muitos casos, encarecer e até mesmo inviabilizar algumas importantes tecnologias de produção. JOSÉ VICENTE FERRAZ é engenheiro-agrônomo e diretor técnico da Informa Economics FNP. Texto Anterior: Petrobras vai ampliar a capacidade de refinarias Próximo Texto: Vaivém - Mauro Zafalon: Brasil receberá 15% do investimento em adubo Índice | Comunicar Erros

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